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terça-feira, 10 de janeiro de 2017

A CRISE DO MONOPÓLIO DAS MÍDIAS NA FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA E AS REDES SOCIAIS.

                                                                                                                                  (PIGATTI, V, T.. 2017)
              O ano de 2016 foi fundamental para a mudança de paradigma político e cultural no Brasil. Nesse ano, no dia 31 de agosto, Dilma Rousseff é retirada do cargo de presidente da República Federativa do Brasil e a sociedade brasileira dá inicio a uma grande transformação com a  retomada dos valores culturais conservadores que irão substituir, paulatinamente, o modelo de gestão ideológica marxista que estava, explicitamente, há mais de 12 anos no poder com o Partido dos Trabalhadores.                      Nesse ano de 2016, grande parte da população brasileira engrossou manifestações de rua por todo o país,  contribuindo assim para desmitificar a retórica exercitada pelos partidos de esquerda ou grupos de influência marxista que alcançaram o poder nestes últimos 12 anos. Os marxistas tomaram posse do  Palácio do Planalto, em Brasília,  primeiramente e de maneira discreta, em 1995, com Fernando Henrique Cardoso, depois de forma mais ostensiva com  Lula e, finalmente, de forma escancarada com Dilma Rousseff.   
        Durante essas três décadas de gestão marxista dividida entre o PSDB e o PT, muitos grupos de ativistas políticos e culturais continuaram sobrevivendo e se recusando a aderir a agenda política e social desses governantes. É o caso de um grupo que se estabeleceu em um bairro da periferia da cidade de São Paulo, com uma atividade voltada para a política/cultural. Esse grupo se tornou bastante conhecido por sua atividade à frente da Casa de Cultura da Reversão Paulistana -(1986/2011) - e da Rádio Livre Reversão - (1988/1991-1995/1996). Embora centenas de pessoas, em sua maioria jovens, tenham frequentado ambos os projetos, poucos puderam entender a respeito dos conflitos intelectuais e culturais que o grupo estabelecido na Casa de Cultura da Reversão Paulistana tinha com a agenda política/cultural dos partidos de esquerda, com o governo e com a indústria cultural promovida e explorada pela Rede Globo de Rádio e Televisão.
     Organizados em partidos políticos de esquerda e com agendas e interesses econômicos convergentes, esses partidos de origem marxista, PT e PSDB, juntamente com partidos menores de mesma base ideológica, formavam uma frente pluripartidária no exercício do poder político, cultural, administrativo e econômico do Brasil. Por conta disso, durante todo o tempo em que essa frente esteve no poder, período que se estendeu até  2016, os que não aderiram a agenda da esquerda sofriam retaliações profissionais e, consequentemente, econômicas por parte das organizações públicas e também de organizações  privadas que se alinharam á retórica e aos interesses financeiros dos marxistas.
         A estratégia de domínio do discurso social  da esquerda obedecia a uma  retórica que cooptava e chamava para si a liderança das reivindicações  que surgiam dos diversos segmentos sociais,  Para dominar os movimentos sociais, hora os marxistas se mostravam liberais, hora marxistas, populistas, socialistas ou com discurso do segmento católico apostólico romano latino-americano. Dessa forma estiveram, aparentemente, na "cabeça" de todo movimento social tanto na área de infraestrutura social quanto na área cultural e religiosa. A mídia, por sua vez, e dentro do acordo financeiro com o poder político marxistas, servia-se das opiniões das "cabeças" para dar as versões dos marxistas sobre os fatos das matérias jornalísticas diárias.
           Mesmo antes de chegarem discretamente ao poder, em 1995 com FHC, quando ainda estávamos no final da década de setenta soba administração do Regime Militar, os que  participavam de atividades culturais de forma inorgânica e autônoma,  sentiam-se coagidos no dia a dia pelas palavras de ordem e pela pressão econômica e administrativa dos grupos marxistas. O conteúdo da imprensa, bem como da atividade cultural e educacional  estava se transformado em registro e retransmissor da agenda marxista. No entanto, não era possível identificar esses conteúdos marxistas tão claramente nas décadas de 70 e 80 como quando os comunistas chegaram ao poder central do Brasil, com Lula, em 2003.
              Lá em 1995, quando Fernando Henrique Cardoso foi eleito para o cargo de  presidente da república do Brasil, ele havia feito, ainda como candidato, o primeiro acordo de interesses mútuos com a Rede Globo de rádio e televisão. O PSDB obteve o apoio político e o controle de opinião da Rede Globo para eleger FHC e esse grupo empresarial de comunicação obteve do presidente  FHC o dinheiro público das inserções de propaganda oficial através dos diversos ministérios federais, isenção e protelação de dividas.
                O modelo de acordo de FHC  com a Rede Globo passaria a se repetir com os próximos candidatos a presidência da república, Lula e Dilma.  Há especulações de que o próprio FHC conduziu o acordo de Lula com a Rede Globo e que o petista recebeu apoio de FHC para ganhar as eleições para presidência da República. Nesse caso, Fernando Henrique Cardoso fez um acordo com o PT e boicotou o candidato de seu próprio partido. No acordo de FHC com Lula o representante do PSDB seria premiado com o apoio do petista e seu partido logo que o mesmo cumprisse os oito anos de governo na presidência da Republica. No entanto o petista não cumpriu o acordo e lançou a Dilma para substitui-lo. Essa traição culminou posteriormente com a reação do grupo de FHC que articulou o impeachment de Dilma e, posteriormente, a condenação e prisão de Lula pela Lava-jato. 
              Durante as décadas anteriores a da eleição de FHC, mais especificamente nas décadas de 70/80/ e 90 a retórica marxista esteve introduzida de forma diluída em todo tipo  de reivindicação que surgiam do seio da população e no seu dia a dia das necessidades comuns. No entanto, ao chegar ao poder, FHC, Lula e Dilma tornaram-se instrumentos de afirmação de grupos específicos e passaram a se utilizar de critério seletivo na confecção de agenda de políticas sociais, tanto econômicas quanto culturais.. Dessa forma, a partir da eleição de FHC e do acordo que ele firmou como a Rede Globo de Rádio e Televisão, a própria rede de emissoras passou a fazer uso dos mesmos critérios ideológicos seletivos da agenda marxista para dar conteúdo as suas programações. Essa simbiose entre  o Estado e a Rede Globo de Rádio e Televisão transformou-se numa sensação de que o governo marxista investidor tinha o monopólio da opinião pública e a Rede Globo a segurança empresarial e o controle das verbas públicas para publicidade e  para outras atividades da comunicação social. Embora detendo a grande parte do bolo de verbas publicitárias, a Rede Globo passou a representar e cotizar os outros empresários de comunicação que aceitassem seu comando, a linha editorial  e a cumprimento das mesmas pautas.
            A partir do momento em que se estabeleceram no poder, 1995  com FHC,  a retórica marxista passou a  ocupar espaço nos meios de comunicação, nas expressões culturais, na retórica acadêmica, de maneiras que deu inicio a uma colisão frontal e desproporcional com a atividade cultural, intelectual, política e econômica de quem não fazia parte da agenda social desses partidos de esquerda e do perfil sócio/cultural da Rede Globo. Os militantes marxistas e aliados, por serem orgânicos, ligados economicamente a partidos políticos, por estarem em cargos públicos ou em ONGs financiadas com dinheiro público, por pertencerem a igreja Católica Apostólica Romana dirigida por Leonardo Boff e Pedro Casaldáliga destruíram os grupos culturais alternativos, inorgânicos, sem militância partidária ou qualquer tipo de financiamento público ou privado. Esse exercício de resistência dos grupos alternativos à cooptação pela colisão frontal dos partidos de esquerda causou toda sorte de perseguição aos indivíduos que não se alinhavam a retórica da agenda marxista. Seus integrantes e simpatizantes alternativos passaram a sofrer desde danos pessoais a danos familiares.
         As perseguições se davam de forma discreta, com recomendações que certamente eram feitas através de telefonemas entre os que pertenciam a mesma organização politica partidária e que ocupavam cargos nas administrações públicas municipais, estaduais e mesmo nas empresas privadas. Essa perseguição ocorria porque as empresas privadas tinham seus interesses financeiros contemplados por acordos políticos/financeiros ou porque participavam do sistema de aliciamento por corrupção. È o caso  que ocorreu com Rede Globo de Comunicações e todo o seu staff, o que se repetiu  com o grupo empresarial ligado ao jornal impresso, Folha de São Paulo e também com o sistema de educação público através de sindicatos e associações  e do setor privado com negociações e acordos realizados  diretamente com os empresários ou com seus representantes administrativos. 
           Não havendo o alinhamento com os interesses políticos e ideológicos desse grupo de poder marxista formado de partidos e empresas,  aqueles que não se submetiam a cartilha da esquerda passaram a ser excluídos do mercado de trabalho como profissionais de educação,  de comunicação e mesmo das atividades culturais patrocinadas pela administração públicas ou privada. Para melhor compreensão das perseguições que sofreram, cito, a seguir, o período da luta pela democratização dos meios de comunicação de rádio e televisão do qual participamos pragmaticamente durante uma década, entre os anos de 1986/1995. Essa atividade política/cultural que desempenhamos obteve  destaque social tanto na esfera  nacional  como na internacional nos anos 90, antes de FHC chegar ao poder.
          No Brasil, desde a primeira transmissão de rádio realizada em 1922, e mais acentuadamente a partir da década de 30 do século XX, quando Getúlio Vargas tomou o poder central através das armas,  as concessões para exploração de rádio e televisão, estavam concentradas  nas mãos de políticos, da igreja Católica Apostólica Romana tradicional e de uma dezena de famílias de empresários ligadas, direta ou indiretamente, a política institucional do Governo Federal. Essa cultura de compadrio seguiu  inabalavelmente até a década de sessenta do Século XX.
         Os meios de comunicação, primeiramente através de emissoras de rádio e posteriormente através da televisão, devido a novidade tecnológica que representavam  e pela capacidade de  mitificação, controlavam a opinião pública e toda indústria de entretenimento. Era, portanto, impossível se expressar através de meio de comunicação de rádio e televisão sem ser aprovado pelo critério ideológico e estético dos controladores dessas mídias.
            A  partir da década de setenta, alguns movimentos que contestavam o monopólio exercido pelo rádio e pela televisão começaram a surgir na Inglaterra e EUA. Logo se expandiu para outros países da Europa. No ano 1988, influenciados pelo movimento italiano de rádios livre e tomando conhecimento do exercício legal de rádio de baixa potência nos EUA, um grupo de paulistanos montou sua própria emissora de rádio de baixa potência e a batizaram com o nome de Rádio Livre Reversão em 106,5 MHz.  A pequena emissora funcionava a partir de um estúdio montado dentro de um centro cultural alternativo conhecido como Casa de Cultura da Reversão Paulistana que ficava em um bairro  do subúrbio da cidade de São Paulo.
           O projeto da rádio foi materializado em 1988 para, através dele, o grupo exercitar suas próprias concepções políticas, históricas, estéticas, bem como a própria  produção artístico-cultural para assim romper o cerco institucional das concessões e do critério ideológico e estético dos controladores dessas mídias e da agenda cultural marxista. Mesmo nos canais de comunicação públicos/governamentais, a exemplo da TV Cultura do Estado de São Paulo,  que deveriam inserir a manifestação cultural da população que não estava contemplada  pela mídia privada, mostravam-se comprometidos com o aparelhamento de partidos políticos que estavam no governo. Os funcionários ou os contratados pelas emissoras  públicas promoviam cerceamento ideológico cultural ou através da esquerda acadêmica alojada organicamente na direção de sua programação ou por simpatia a retórica e a agenda sócio/cultural do referido partido mantenedor instalado no poder estadual ou central.
            Primeiramente e antes da instalação da emissora de rádio livre,  para experimentar o exercício de convivência com a sociedade local, o grupo construiu, em 1986, um centro cultural auto gestionário que ficou conhecido como Casa de Cultura Reversão ( depois Paulistana). Dois anos depois, em 1988, completaram o projeto montando e fazendo funcionar, a partir da Casa de Cultura Reversão, a Rádio Livre Reversão, emissora de rádio de baixa potência, sem que a Casa e a Rádio  tivesse qualquer registro ou permissão institucional ou legal para funcionar.
          Com programação diária que negava os padrões culturais institucionalizados, bem como a mercadoria da indústria cultural de entretenimento propagada pela Rede Globo e emissoras de rádio legalizadas, a Rádio Livre Reversão negava-se a transmitir as manifestações artísticas orgânicas da esquerda. A Rádio Livre Reversão funcionou  de agosto de 1988 até o dia 9 de abril de 1991, quando a Casa de Cultura e o estúdio foram invadidos em ação conjunta da Policia Federal com o Ministério das Comunicações, sob o governo de Fernando Collor de Mello e com a influência direta da Rede Globo que coordenava e controlava a ABERT -Associação Brasileira  de Emissoras de Rádio e Televisão-.
            Esta ação do Governo Federal  tinha por finalidade prender o responsável pelo funcionamento e pela programação da emissora de rádio livre, confiscar todos os equipamentos além de fitas cassetes, discos, cartazes e tudo mais que havia no estúdio. Por três anos o responsável pela pequena emissora livre respondeu  processo na Justiça Federal até que foi absolvido  em 1994, recebendo de volta todo o equipamento da rádio que havia sido confiscado pelo Governo.
           No Dia 9 de abril (mesma data da apreensão) de 1995 a emissora voltou a funcionar transmitindo do mesmo lugar onde havia sido fechada pela ação policial do governo federal. Depois de permanecer por mais um ano no ar, suas atividades foram encerradas definitivamente em 9 de abril 1996. O encerramento das atividades deveu-se a avaliação dos responsáveis de que o projeto de comunicação havia cumprido totalmente com sua proposta política e cultural para a qual foi edificado. 
Carreata em plena Avenida Paulista em protesto pela
ação do Ministério das Comunicações que fechou
da Rádio Livre Reversão em abril de 1991.
          O fato do responsável pela Rádio Livre Reversão  ter sido absolvido no processo judicial que o Governo Federal lhe impôs, fez surgir milhares de pequenas emissoras de rádio que se espalharam pelo vasto território do Brasil sem que, para isso, tivessem permissão legal para o funcionamento. Essa situação de desobediência civil obrigou o próprio Governo Federal no ano de 2001, sob a gestão de FHC,  a regulamentar por Lei o funcionamento de emissoras de baixa potência no Brasil.
         Essa regulamentação foi estabelecida para dar um nó no movimento de rádios livres e evitar que esse tipo de atividade sem permissão federal fosse mantido com amparo na jurisprudência criada pela Rádio Livre Reversão. Considere-se ainda que a Rádio  Livre Reversão voltou a funcionar no dia 9 de abril de 1995, permanecendo no ar até 9 de abril de 1996, quando as suas atividades foi encerrada  por livre espontânea vontade .
       A apreensão da Rádio Livre Reversão foi noticia em grande parte da mídia diária de jornais escritos, rádio e televisão, com exceção das mídias ligadas a Rede Globo. O fato despertou a opinião pública para a causa da Democratização dos Meios de comunicação de Rádio e Televisão desembocando em um movimento de interesse nacional. Tal publicidade fez com que surgissem iniciativas de partidos políticos de esquerda que, na forma de associações e foro, se organizaram para representar, intermediar e controlar essa bandeira de luta que ganhou notoriedade com a Radio Livre Reversão. Sob a influência dessas associações, dos foros, das organizações patronais e de setores da igreja católica envolvidos com comunicação, foi confeccionado o projeto de regulamentação da atividade de emissoras de baixa potência dando ao projeto o título de Rádios Comunitárias.
O objetivo era anular as iniciativas pautadas na jurisprudência criada pela absolvição da Rádio Livre Reversão e, acima de tudo, controlar o conteúdo das programações das pequenas emissoras. Ao final, o projeto aprovado pelo Governo Federal transformando rádios livres em rádios comunitárias tirando dessa atividade a capacidade de formar opinião e interferir na demanda de mercadoria oferecida pelo monopólio controlado pela Rede Globo. Essa mudança de paradigma de Livre para Comunitária Legal permitiu que rádios comunitárias se transformassem em aparelhos políticos. As poucas concessões  premiaram as associações alimentadas e preparadas com a retórica das organizações sociais de apoio aos partidos de esquerda.
       No entanto, com o passar dos anos as rádios comunitárias foram abafadas pelos que manipularam o movimento. FHC fizera acordo com a Rede Globo e nem essa empresa de comunicação e nem a esquerda que estava no poder tinha interesse na democratização dos meios de comunicação de rádio e televisão. A escamoteamento total do movimento se deu nos governos do PT de Lula e Dilma que  que substituíram FHC. A regulamentação instituída por FHC com apoio da esquerda destruiu de vez as possibilidades do exercício da liberdade de expressão sem controle legal e da auto regulamentação de emissoras de baixa potência  proposta pela Rádio Livre Reversão. 
          Contrariando o Pacto de São José da Costa Rica, (1969), do qual o Brasil foi signatário, a regulamentação federal sobre exploração de rádio de baixa potência promulgada pela Lei Nº 9.612, de 19 de Fevereiro de 1998, assinada por Fernando Henrique Cardoso, vestiu camisa força na liberdade de expressão. A luta pela democratização dos meios de comunicação que o grupo da Zona Leste de São Paulo exercitou com êxito através da Rádio Livre Reversão começou a se esvaziar. Se por um lado a Rádio Livre Reversão foi vencedora, por outro lado  colocou seus participantes na lista negra dos ativistas sociais que passaram a ser cerceados em atividades profissionais que envolvessem educação, comunicação e cultura. 
         O esvaziamento da luta pela liberdade de expressão na democratização dos meios de comunicação foi causado, estrategicamente, pelos setores politicamente organizados da sociedade cujo projeto principal era chegar ao comando do Governo Federal e que, para tanto, fizeram um acordo de interesses com a Rede Globo de Rádio e Televisão. Esse projeto de poder dos partidos de esquerda comandados pelo PSDB e PT com o apoio da Igreja Católica Romana latino americana se consolidou, de fato,  em 2003 com a eleição de Lula para presidente da república colocando o Partido dos Trabalhadores no comando das principais instituições brasileiras. A liberdade de expressão, a democratização dos meios de comunicação e o exercício livre da comunicação pela Rádio Livre Reversão não atendiam o projeto do Partido dos Trabalhadores na sua estratégia ideológica de controle político e econômico do Estado Brasileiro. O projeto do Partido dos Trabalhadores, a exemplo do que ocorreu na Venezuela e na Bolívia, era ficar no poder por tempo indeterminado. Por conta disso, qualquer manifestação que pudesse ameaçar a estratégia de poder do Partido dos Trabalhadores e seus aliados, foi esvaziada, a exemplo do que ocorreu com o movimento pela democratização dos meios de comunicação de rádio e televisão e com a luta pela liberdade de expressão que envolveu a Rádio Livre Reversão. No entanto o projeto de poder do Partido dos Trabalhadores e aliados, o qual foi finalmente alcançado em 2003 e que causou tantos danos durante todos esses anos, encerrou-se oficialmente em 2016 com o impeachment da sucessora indicada por Luís Inácio Lula da Silva.
        O esvaziamento da causa que envolvia Liberdade de Expressão e democratização da indústria de mercadoria cultural,  foi promovido pelo Partido dos Trabalhadores, Rede Globo e aliados de esquerda. No entanto,  não  se pode deixar de apontar a conivência e participação do capital empresarial detentor das mídias e da mercadoria de divertimento cultural. A mídia brasileira instalada a partir de 1930,  controlava, ainda na primeira década dos século XXI, a demanda do mercado consumidor, e a opinião pública, a publicidade privada e institucional do território brasileiro. O capital agiu concomitantemente com a esquerda, tirando proveito das mesmas questões, embora  utilizando estratégias diferentes dos partidos de esquerda. Ao invés de quadro partidário, o capital financeiro pode contar com a fidelidade e interesses de seus próprios funcionários que gozam de altos salários e projeção social, trabalhando, em boa parte e ao mesmo tempo, para a empresa e para o Partido dos Trabalhadores e seus aliados. São esses funcionários os jornalistas, os trabalhadores em representação de personagens de novelas, os técnicos e serviçais de maneira geral. Por fim, as empresas, a exemplo do que ocorreu com os partidos políticos, se transformaram em verdadeiras quadrilhas legalizadas que se enriqueciam com o dinheiro público.

A DEMOCRATIZAÇÃO QUE O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO DOS PAÍSES DESENVOLVIDOS  IMPÔS AO MONOPÓLIO DA VELHA MÍDIA DO TERCEIRO MUNDO.

        Quando já não se falava em Rádio Livre ou em Rádio Comunitária, quando o conteúdo conceitual dessa luta havia sido totalmente desprezado com o Partido dos Trabalhadores e a Rede Globo no controle do Governo Federal, quando os meios acadêmicos deixaram de manifestar interesse para formulação de teses e Trabalhos Acadêmicos sobre esse tema, surgiu uma nova expectativa para a liberdade de expressão dos grupos e indivíduos que combatiam o marxismo ou não se adequavam à agenda politica/cultural da esquerda marxista. Quando tudo parecia controlado pela esquerda, quando tudo parecia ter acabado para a resistência ao marxismo,  um movimento novo e inusitado vindo do hemisfério norte atravessou as fronteiras brasileiras e se estabeleceu no país.  A luta pela Liberdade de Expressão  se convalesce e recebe uma vigorosa injeção de ânimo levando os grupos até então derrotados e prisioneiros do monopólio a se reerguerem para alcançarem uma vitória inimaginável.
     Surge a revolução digital, a internet, que torna na liberdade de expressão num fato comparável a construção da prensa de tipos móveis de Gutemberg e as grandes navegações do século XV. A revolução digital se completa com a relação interativa proporcionada pela criação da plataforma WEB 2.0 por onde o monopólio do emissor em relação ao receptor estático foi rompido, destruindo o controle tecnológico do rádio e da televisão sobre a opinião do ouvinte e do telespectador. Emissor e receptor trocavam papéis a partir de agora e em tempo real.
        Junto com a internet, fenômeno tecnológico ocorre no inicio do século XXI, o conhecimento e as fronteiras são ampliados com o acesso ao conteúdo produzido em outros países, por outros movimentos, registrados vitualmente  em todas as línguas faladas no planeta. Esse processo resultou da expansão tecnológica dos países desenvolvidos que estabeleceu novos parâmetros tecnológicos e econômicos após a queda do muro de Berlim, em 1989, e do final da Guerra Fria.
     Com o passar dos anos a onda da globalização atinge, ainda que  tardiamente, o Brasil e os outros países subdesenvolvidos da América Latina. No decorrer desse processo de globalização, chega ao território brasileiro as tecnologias de comunicação e informação digitais e com elas a internet. Aos poucos foi se consolidando, pela globalização e de fora para dentro do país, o novo processo de uso da comunicação, da liberdade de expressão, da informação e do livre exercício da opinião pública através das redes sociais. Essa liberdade foi, inicialmente, um exercício que possibilitou o acesso de todos os extratos sociais aos meios de comunicação coletivos. O desconhecimento dos empresários das redes sociais sobre a real posição da população que por décadas se viu abafada pelo monopólio da mídia e pela manipulação da opinião pública, fez com que eles criassem e disponibilizassem os instrumentos tecnológicos para o exercício da liberdade de expressão e de opinião.  No entanto, os resultados políticos do exercício dessa liberdade fez com que esses novos empresários recorressem aos ensinamentos  da escola monopolista da velha mídia e a  agenda política dos partidos de esquerda.
           Inicialmente  a comunicação digital  estava reduzida a expressão textual, mas em pouco tempo nela foi inserida tecnologia que permitiu todo tipo de manifestação e em tempo real. De imagem a som, de vídeo pré elaborados a gravações instantâneas com transmissão em tempo real. Com a evolução da internet para as redes sociais, toda luta deflagrada, todo esforço empenhado e deslocado desde a implantação da Rádio Livre Reversão, em 1988, toda conquista, toda vitória e toda derrota, todo esforço dos grupos de política/cultural e toda manipulação  da Rede Globo e dos partidos de esquerda como PT e PSDB haviam sido substituídas, tornadas sem nexo, sem significado. Agora não se falava mais em meio de comunicação de rádio e televisão de baixa potência de 50 watts, pois a internet tornou-se disponível  a qualquer sujeito através da portabilidade de um aparelho celular de alcance inimaginável.
                 Nada  do que até agora fora feito possuía a dimensão, as características, a importância desse novo processo mundial que estava  envolvendo a liberdade de expressão. A tão sonhada vitória que se desejava alcançar em 1988 pela liberdade de expressão através da democratização dos meios de comunicação de rádio e televisão estava, enfim, sendo experimentada,  contemplada com a tecnologia digital e com a portabilidade individual de sistema de comunicação de massa a disposição nos aparelhos celulares.                   
                Por romper fronteiras e tornar o cidadão conectado com outros indivíduos de qualquer parte do planeta, a revolução digital retira das mãos de governos do terceiro mundo ocidental e dos seus projetos ideológicos totalitários, o controle sobre a comunicação coletiva e sobre o monopólio de seu conteúdo.
              Dessa forma a revolução digital torna caducas as empresas de comunicação que fizeram acordos com partidos políticos para trocarem formação de opinião por dinheiro público. A revolução digital colocou um fim  no monopólio da formação de opinião até então controlada pelas empresas de comunicação como jornais, rádios e televisões.
                    Estabeleceram-se as redes sociais criando a possibilidade de fragmentar o monopólio da retórica até então sob o controle das velhas mídias, bem como a manipulação da opinião pública. No terceiro mundo latino americano, a exemplo do Brasil, o sistema de comunicação sempre fora propriedade de políticos, da igreja católica apostólica romana  e de famílias de influência política que se apoderaram das concessões. Dessa forma  manipulavam a opinião pública, como também a mercadoria cultural. 
                  As novas tecnologias e as empresas de redes sociais não impediram a continuidade dos projetos políticos totalitários a exemplo do que ocorreu na Venezuela, na Bolívia, na Argentina  e não afetou os que já estavam há décadas instalados como os de Cuba e China, entre outros. Projetos políticos totalitários que muitas vezes manipulam a retórica democrática para alcançar o poder reagem em relação a liberdade de expressão inicialmente exercida nas redes sociais. Como uma reação ao avanço das liberdades possibilitadas pelas  redes sociais que culminou na  consolidação de valores conservadores, os partidos de esquerda se unem à igreja católica apostólica romana latino americana  , mas não mais ao velhos meios de comunicação de rádio, jornais e televisão. Em lugar dessa velha mídia os partidos de esquerda buscam agora parceria com os empresários das redes sociais.  Partidos de esquerda, igreja católica apostólica romana latino americana, traçam pontos em comum. Se para a esquerda a reengenharia familiar, questões do aborto e outros temas da sua agenda anticristã podem ser protegidas pelos proprietários de redes sociais, a igreja católica apostólica romana latino americana  também passa a apoiar esse agende desde o avanço inexorável dos evangélicos ou protestantes seja minimizados assim como a participação deles nos meios de comunicação de rádio e televisão e nas redes sociais. 
         As redes sociais deram vazão as opiniões, reflexões e ponderações acumuladas e silenciadas por décadas no isolamento imposto pelo monopólio da velha mídia que não permitia a consolidação de canais de comunicação livres e coletivos, ainda que de potência e abrangência insignificantes como as rádios e TVs livres. Com a chegada da internet foi possível tornar público e acessível a todas as pessoas, de todos os países e lugares, textos, poesias, estudos, opiniões, imagens, informações e toda sorte de publicações dos mais diversos enfoques ideológicos e conceituais. Através das redes sociais, deu-se vazão a opinião pública como nunca houvera ocorrido antes, até mesmo nos anos em que se falava diariamente através dos microfones da Rádio Livre Reversão para um publico estimado em trinta mil ouvintes.
     Nas redes sociais a expressão que ficara por décadas aprisionada ganhou liberdade, interlocução com respostas instantâneas, abrangendo toda sorte de indivíduos, sem nenhum vínculo orgânico com partidos, associações ou grupos organizados legalmente. 
    Outro fato importante foi a crise que se estabeleceu na atividade  de algumas profissões corporativas que intermediavam a relação entre a opinião pública e o poder político institucional, entre a informação e o vazio intelectual. Nesse caso a profissão de comunicador social, jornalista, em todas as suas especialidades, perdeu a importância na intermediação e representação da opinião pública. A globalização e as redes sociais colocaram os representantes do poder político institucional em contato direto com os cidadãos, desapoderando profissões e status, entre elas a dos jornalistas da imprensa escrita, mas também  redatores e âncoras  da televisão.           
          Também na área da educação a profissão de professor foi descaracterizada já que o conhecimento está a disposição de qualquer um que pode alcança-lo em qualquer parte do mundo através das ferramentas de pesquisa e da digitalização e publicação virtual de todo tipo de informação, seja ela em áudio, vídeo ou escrita.
       Da mesma forma a identificação de trabalhadores que fazem interpretação ou imitação de personagens nas novelas e no cinema, até então considerados artistas, tem seus dias contados. Ocorre que as novas tecnologias de informação e comunicação colocam a disposição do cidadãos até então silenciados  todos os instrumentos tecnológicos para a confecção,  registro, edição e publicação de sons e imagens.
     No entanto, os valores comportamentais, de costumes, hábitos de consumo, valores éticos e morais que foram desestruturados ou introduzidos nestes últimos cinquenta anos na construção cultural, estética, ética e moral do cidadão pelo monopólio da velha mídia e através de seu exercício diuturno  de manipulação da opinião pública, também migrou e ocupou sobremaneira os espaços das redes sociais. Representados por sujeitos de faixa etária presumível, acima dos 40 anos de idade, esse grupo social tem encontrado dificuldades para lidar com a liberdade de expressão. Outro fato que colaborou para a redução da liberdade de expressão nas redes sociais foi a politização das mesmas. No entanto a politização é fundamental para a liberdade de expressão já que a velha mídia excluía, controlava as manifestações que não estavam de a acordo com seu pacto político ou com a sua mercadoria cultural. 
         O volume de informações com a marca da liberdade de opinião tem gerado mudanças até mesmo neste referido grupo de indivíduos de mais de 40 anos. Ainda assim essas mudanças não desfazem a insegurança que esse grupo de indivíduos acumulou pelos anos de submissão ao sistema de produção de opinião/pronta servida pelo monopólio da mídia. É possível observar nas redes sociais grande quantidade de publicações de clichês ou frases prontas de autores de toda natureza e mesmo de "artistas" orgânicos mitificados pelo monopólio da mídia e usados no projeto de poder dos partidos da esquerda assentados no  marxismo ou de nas suas  vertentes socialistas. 
        Por outro lado, as redes sociais têm aproximado os sujeitos que foram silenciados,  ocultados e desprezados pelo monopólio. Esses indivíduos procuram uns aos outros pelas redes sociais e convergem para as mesmas preocupações. Romper com o silêncio foi o principal  motivo que levaram o  grupo de indivíduos paulistanos a edificar em 1988 o projeto da Rádio Livre Reversão. Em uma avaliação correta, pode-se afirmar que a experiência com a Rádio Livre Reversão alcançou projeção política social, mas não logrou êxito sobre questões que envolvem o conteúdo cultural na disputa desproporcional que estabeleceu com o monopólio. Diante disso pode-se afirmar que o encontro entre indivíduos silenciados pelo monopólio e com preocupações semelhantes não aconteceu antes da internet. Pois, mesmo com rádios e TVs livres, não poderiam conversar, se encontrar e construir discurso comum, pois no rádio e na televisão somente  emissor detém o poder da fala, da opinião. Bem ao contrário disso, as redes sociais usam a plataforma WEB 2.0,  onde emissor e receptor podem trocar de posição simultaneamente e em tempo real.
            O atraso ocasionado pelo monopólio das comunicações e de manipulação da opinião pelas velhas mídias de jornal, rádio e televisão,  que, somado ao sistema educacional contaminado por teses marxistas que resistiram mesmo com o fim do Muro de Berlin,  deixam um legado que não desaparecerá nos próximos anos ou na próxima década. Certamente, o resultado da falta de liberdade de expressão que submeteu gerações fará com que grande número de indivíduos continuem carregando, manifestando e reproduzindo valores éticos, morais e culturais que lhes foram sedimentados pelo monopólio, por seus profissionais e intelectuais orgânicos.
        Temas como corrupção, parlamento, justiça, violência, religião, diversidade cultural e outros de ordem moral e ética passaram a ter voz nas redes sociais através da opinião pública até então silenciada. Se as manifestações da opinião pública que estava silenciada foi fundamental para desconstruir a retorica esquerdista de poder, outros temas subjetivos dão sustentação a esse tipo de poder e continuam sendo usados e manipulados pelo monopólio. Se os usuários das  redes sociais a politizaram, outras questões continuam sendo ignoradas. As redes sociais e a internet confundem quando dão aos seus usuários a ideia de que são cidadãos globalizados.  O fato de ter acesso a qualquer manifestação no planeta e em tempo real não inibe as questões de ordem local, regional. Questões como as que põem em público o controle do mercado cultural, da mercadoria de divertimento cultural, da representação sindical, do voto obrigatório, da inviabilidade ou não do pacto federativo, da multiplicidade de identidades regionais, do controle do conteúdo acadêmico, entre outros, não receberam ainda a mesma atenção dos usuários das redes sociais. Talvez porque esses usuários estão submetidos ao processo natural de implosão por etapas que está em curso no atual momento histórico mundial e, consequentemente, brasileiro. 
        Estas questões são propositadamente ignoradas pelo monopólio que ultimamente tem se ocupado  das pautas  apresentadas nas redes sociais. Ainda que o monopólio use o conteúdo das redes sociais e reproduza o problema econômico e da corrupção, em hipótese alguma dará atenção para as opiniões  que refletem o desejo de mudanças culturais no sistema político e organizacional do estado brasileiro. O processo econômico e político representativo, o controle da informação e da opinião, prosseguem monopolizados e explorados institucionalmente pela velha mídia como uma proteção do que elas mesmas  estabeleceram há décadas. Ignoram totalmente  as possíveis mudanças reclamadas pelas redes sociais.  
               É certo, no entanto, que os empresários das redes sociais adquiriram status econômico que os colocam entre os proprietários de empresas de maior lastro econômico no universo empresarial. Diante desse quadro pode-se afirmar que eles já não se confundem mais com o ideia de liberdade de expressão, mas, ao contrario, se confundem agora com o poder. Já está havendo uma simbiose entre os empresários das redes sociais e os partidos políticos de esquerda, com os outros conglomerados econômicos e com centro de poder religioso globalista.  Não tardará para que o costume da velha imprensa migre para dentro das redes sociais, é só uma questão de tempo. Isso deverá ocorrer de forma explicita quando os empresários detentores das redes sociais se converterem a cultura monopolista, a cultura do poder econômico e se aliarem aos beneficios propostos pelos grupos globalistas que representam a nova esquerda internacional, a nova ordem mundial.  
         No entanto podemos afirmar que não há como retroceder e que a democratização dos meios de comunicação está estabelecida pela mudança de paradigma tecnológico. O monopólio da formação de opinião da velha mídia pode ser destruído completamente. Pra tanto, os usuários das redes sociais precisam tirar o maior proveito possível deste momento em que as redes ainda não se ocuparam totalmente do papel papel político exercido até então pela  velha mídia.
(PIGATTI, V, T., 2017)

                                                                         Valionel Tomaz Pigatti (Léo Tomaz)
                                                                      Currículo Lattes:  http://lattes.cnpq.br/0781027245850748

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

A diferença de Caridade e solidariedade.

The difference of Charity and solidarity.
                                                                                    (PIGATTI, V, T., 2014)

               Sinto falta dos debates acalorados que se davam com amigos de posições divergentes e com os poucos que somavam comigo nas opiniões. Foi assim em muitas noites que se tornaram inesquecíveis e marcaram boa parte da história que ultrapassou um quarto de século de existência da Casa de Cultura da Reversão Paulistana. Os conflitos de ideias e de interpretações da realidade nos permitiram exercitar a reflexão preparando alguns para superar as decepções políticas e culturais desse início de século XXI aqui no Brasil. Pode não se enquadrar do ponto de vista da formalidade e da cientificidade, mas a Casa de Cultura da Reversão me pareceu, em alguns momentos, uma escola que oferecia curso Acadêmico pelo tanto que exercitei e aprendi. Obviamente que ao chegar à rua Hermilo Alves, 569, na Vila Ré, cada qual trazia consigo experiência, conhecimento, herança, vícios, influências e convivências.  A Reversão Paulistana permitiu esse exercício. 
               Sob o ponto de vista pessoal,  o mais complicado, o mais difícil no exercício de refletir sobre a realidade sempre foi a necessidade que tenho de identificar, desopilar, limpar, desinfetar de meu próprio discurso os valores e interpretações que me foram introjetados através da educação e da cultura por esse ou aquele interesse ideológico,  político partidário, dos colonizadores originais, de grupos ligados ao Movimento Modernista e ao pensamento marxista que preencheram boa parte da produção intelectual e artística do século XX na América Latina. Custou-me identificá-los e  separar suas influencias  dos valores subliminares e atávicos que estavam embotados em mim e que me foram transferidos por herança milenar de meus antepassados. Valores, esses, que embora estivessem adormecidos ou controlados pelo bombardeamento de interesses da educação e da cultura local, eram como reserva substancial para que, na medida em que os mesmos viessem à tona, fossem recuperados e reapresentados, propiciando-me identidade, coerência e a descoberta de mim mesmo
               No momento em que esses valores que estavam embotados em mim foram aflorando, passei a enxergar, por eles, os instrumentos de manipulação no discurso e comportamento desse ou daquele sujeito, dessa ou daquela instituição política e social, bem como o que era e o que não era da minha essência cultural. Por esses valores que resgatei consegui identificar discursos diferentes, mas que tinham a mesma base cultural, a mesma formação, resultantes dos mesmos interesses ideológicos, objetos da mesma estratégia de grupos de poder. Recuperando esses valores milenares que estavam em mim, desfragmentei-me, situei-me como indivíduo integro e milenar no contexto local e no planeta. Quando comecei a montar a Casa de Cultura da Reversão ao final de 1985, já havia me desvencilhado de boa parte das influências dos discursos políticos partidários que marcaram a década de setenta e que, ainda hoje, 2015, se mantêm vivos, na ordem do dia e no poder na América Latina. 
          Para exemplificar como os valores de minha herança cultural e milenar, me ajudavam a identificar o discurso estranho à minha realidade, vou discorrer sobre um fato que se deu no inicio dos anos 2000,  quando sentei ao lado de  um amigo no bar da Casa de Cultura Reversão. O amigo  se referiu ao escritor Eduardo Galeano que em um de seus livros dizia assim: “Eu não acredito em caridade. Eu acredito em solidariedade. Caridade é tão vertical: vai de cima para baixo. Solidariedade é horizontal: respeita a outra pessoa e aprende com o outro. A maioria de nós tem muito o que aprender com as outras pessoas”. 
       Antes de prosseguir com a avaliação da afirmação desse escritor, acredito que não é intelectualmente saudável reproduzir ou mesmo ler algo de qualquer autor sem antes conhecer seu comprometimento, sua história pessoal, sua fonte política partidária e filosófica. Ao se ler Galeano, a preocupação com o currículo e a história desse autor é a melhor forma  que temos para entendê-lo.  Da mesma forma  deve ser feito com a minha história, já que passo a escrever sobre o que Galeano afirmou. É óbvio que reconheço a distância que nos separa na projeção social como escritores. No entanto, hoje já não tenho certeza se  possuo mais ou menos importância, se tenho mais ou menos conhecimento empírico ou intelectual, mesmo sendo algo de conhecimento publico que Galeano tenha se consagrado como escritor tanto para o mercado literário quando para os registros acadêmicos
              A obra  de Eduardo Galeano que se destacou é, sem dúvida, As Veias Abertas da América Latina. Nela esse autor analisa a História da América Latina argumentando contra a Europa e os Estados Unidos da América do Norte como sendo os exploradores econômicos e políticos do povo latino-americano. O autor  sempre fora  influenciado pela estratégia política e cultural da Internacional Socialista, organização política marxista que ainda nos dias de hoje exerce influência na produção literária do Brasil e de outros países do planeta. O livro de Galeano tornou-se um clássico entre os membros da esquerda latino-americana pró União Soviética ou pró Rússia, pró China, pró Albânia ou Cuba,. Esses países eram referências para os partidos comunistas espalhados pelo mundo e unidos na Internacional Socialista. Eram esses países com sistema de governo marxista que  influenciavam e financiavam economicamente atividades políticas e culturais dos partidos e dos grupos de esquerda marxistas por todo o planeta. A principio, e desde 1917, o financiamento e a promoção vinha da União Soviética que se desintegrou com a derrubada do Muro de Berlim em 1989.  Mesmo assim, muitos desses militantes formado antes da queda do muro de Berlim, como já anotei em outros ensaios, ainda hoje estão em atividade na vida pública, cultural e acadêmica da sociedade latino-americana e mesmos em organizações internacionais como ONU, UNESCO, OEA etc. De formação marxista, Galeano foi um deles. Ele trabalhou como editor do Jornal Marcha, semanário da esquerda uruguaia nos idos dos anos 60/70. 
           Sem deixar de respeitar o vasto trabalho de Galeano, atenho-me apenas a identificar os motivos ou a falta de motivos que levaram esse autor a optar por solidariedade em detrimento de Caridade. Certamente Galeano não se apoiou nos conceitos de "solidariedade mecânica e orgânica" que Émile Durkein conceituou no século dezenove. E mesmo que sustentado em Durkein, Galeano teria cometido erro de convencimento já que, atualmente, no inicio do século XXI, o embate entre ciência X religião que alimentou  a produção de intelectuais no conflito de interesses entre socialismo e capitalismo durante o século XX, já não tem importância política. Agora, no século XXI, Ciência e Religião são campos distintos e caminharão juntos, que um não afeta o outro. No entanto a forma leviana como Galeano abordou a Caridade denota que a sua maior preocupação era de destruir valores da civilização cristã atendendo com isso a estrategia politica da organização marxista da qual  participava e que, por isso, o promoveu. .
         Identificado o inimigo, é preciso então compreender que a Caridade para nós, Cristãos Ocidentais,  trata-se de um Dom de Deus, materializado na ação de Jesus Cristo através de sua Doutrina, responsável pela construção da ética e da moral do indivíduo ocidental (também de cristãos por todo o planeta) nestes últimos dois mil anos. A Caridade é a Perfeição e está ligada diretamente à figura de Jesus Cristo. Mesmo em dose homeopática, o exercício da Caridade sedimenta valores éticos e solidifica o respeito à Dignidade Humana. A Caridade habita no ser humano e é um instrumento de sobrevivência, exercitada mais comumente pelas mulheres. Manifesta-se em indivíduos espiritualmente sofisticados, que, por vários motivos, atuam onde a desigualdade entre os Homens se manifesta, quer por deficiência física e mental, por catástrofe natural, doença, incompetência, fragilidade e assim em diante. 
         Também o conceito de Igualdade, quando usado fora da Doutrina de Jesus Cristo e do campo espiritual,  só tem sentido político partidário e como retórica dialética. Serve na política administrativa  para que se aprimorem instrumentos sociais de natureza jurídica do Estado os quais regulamentam o acesso a Justiça, a Educação e afins. A igualdade, como resultado da mais valia, assentada na análise econômica e na divisão de classes, surgiu com o modo de produção da velha industrialização. No entanto a industrialização que se deu no século XIX e inicio do século XX já foi substituída por outra forma de produção. Atualmente o mundo se prepara para a Quarta Revolução Industrial onde a economia depende da presença de tecnologias digitais, mobilidade e conectividade entre pessoas, homens e máquinas, tendo a informação como valor central. Ocorre que mesmo diante desse quadro evolutivo da industrialização, grupos políticos partidário nos países democráticos em desenvolvimento, prosseguem com o uso do conceito de  Igualdade sob a ótica econômica marxista,  investindo nessa retórica com objetivo de alcançar o poder político e administrativo desses países. A retórica utilizada por Eduardo Galeano é influenciada pela velha industrialização que dividiu e monopolizou o mundo industrializado do século XX entre esquerda e direita.
              Esse suposto diferencial  retórico entre esquerda e direita foi responsável por grande parte da violência social que afligiu a humanidade durante todo o século XX deixando milhões de mortos pelo caminho. Por outro lado, registrou-se um período de grande avanço tecnológico e científico, bem como do aperfeiçoamento do exercício e da compreensão do  Cristianismo e do papel da religião. 
           É certo que em função da disputa que alguns países estabeleceram entre si na busca da hegemonia cultural , intelectual, política e econômica global,  tal como Solidariedade e Igualdade, outros termos passaram a ser utilizados como, por exemplo,  o "fraternidade". No entanto essas nomenclaturas são conceitos manuseados e desenvolvidos por corporações cujo objetivo é oferecer outras opções de retóricas ideológicas para grupos que também se ancoram no conceito de Igualdade ou que tem o mesmo matiz ideológico. Esses grupos assentam na mesma doutrina a construção de seu discurso político partidário, mas pertencem a organizações e estratégias diferentes. Esses conceitos vem desempenhando papel político desde a Revolução Francesa.
João Paulo II e Lech Walesa


               Como exemplo do uso político de "solidariedade"  como jargão, podemos citar a ida do papa João Paulo II à Polônia, país que estava sujeito a Rússia Soviética, cujo regime ideológico restringia a atividade religiosa. Em 15 de junho de 1983, o papa João Paulo II foi à Polônia, sua terra natal, levando apoio aos trabalhadores do Solidariedade, Solidarność em polonês, que se tratava de uma organização sindical presidida por Lech Walesa. Naquelaq circunstância a ida do Papa foi fundamental para a derrocada do paradigma da igualdade materialista da retórica Soviética que imperava na polônia e em outros países da Europa Central.  A ida do Papa à Polônia  fortificou e simbolizou a resistência ao colonialismo soviético/ateu para os poloneses e outros povos da Europa.
          Também em 1983 João Paulo II foi à Nicarágua, na América Central, e criticou publicamente o bispo Ernesto Cardenal que se apresentava como representante de Roma e apoiava explicitamente os sandinistas pró-soviéticos-cubanos. Isso demonstrou que a Igreja Católica Romana dirigida por João Paulo II era solidária com os portuários na Polônia que se rebelaram contra o colonialismo Russo/Soviético, mas não era solidária com o seu representante na Nicarágua que apoiava o colonialismo de Moscou,  comum entre sacerdotes  católicos de vários países latino-americanos. 
João Paulo II e Ernesto Cardenal
            Podemos observar também a opção cuidadosa que a Igreja Católica Romana na América Latina  deu aos jargões "Solidariedade e "Fraternidade". Basta lembrar, por exemplo, as campanhas da fraternidade que marcou a ação da CNBB - Confederação Nacional dos Bispos do Brasil- de 1991 a 2011, que nesse período influenciou toda a ação política e social no Brasil e, certamente, na América Latina. A aproximação da Igreja Católica Apostólica Romana com o campo marxista se deu através da Teologia da Libertação que trata-se de uma corrente teológica cristã nascida na América Latina, depois do Concílio Vaticano II e da Conferência de Medellín (Colômbia, 1968). Esse movimento de origem Católica Romana  parte da premissa de que o Evangelho exige a opção preferencial pelos pobres e especifica que a teologia, para concretar essa opção, deve fazer uso das ciências humanas e sociais.  Dessa forma podemos entender os motivos políticos que levaram os bispos latino americanos a optarem por fraternidade ao invés de solidariedade como jargão.  Ocorre que  somada com a divergência ideológica interna quanto a ação de João Paulo II em relação ao colonialismo Russo/Soviético e à Nicarágua, os bispos brasileiros ao se aproximarem do campo marxista para ganhar autonomia em relação a Roma de João Paulo II e combater a expansão do protestantismo dos EUA e Inglaterra na América do Sul, optaram por  "fraternidade" como jargão da campanha da CNBB, Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil.
          Fato importante para o entendimento desse processo político ocorreu na greve do ABC em 1979, aqui em São Paulo, Brasil. O movimento grevista contou com apoio da CNBB que  alavancou a figura  Lula e do Partido dos Trabalhadores, oferecendo as comunidades eclesiais de base para organizar o Partido e, com isso, levando-os, Lula e o PT,  à presidência da República no Brasil. A população, de uma forma geral, se mobilizou para enviar alimento aos grevistas.  Na época muitos, como eu, participaram ativamente e emocionalmente disso. Inegavelmente boa parte da população demonstrou solidariedade aos trabalhadores fabris em greve no ABC, mas não à causa subliminar de viés ideológico ou para com a visão de mundo dos sindicalistas do ABC. Fomos solidários à distância, longe da verve ideológica marxista,. Essa posição demonstra que nem no ABC e nem em qualquer outro momento político  a Caridade se manifestou. Houve somente a manifestação de apoio  que se auto protege na desconfiança, que se entrega limitado e político na forma de  solidariedade.

            Obviamente que para a noção materialista do marxista Eduardo Galeano e, consequentemente, como ateu que era, a utilização do termo "solidariedade" como retórica de classe social torna-se um agregador político imediato, superficial e de fácil acesso,  podendo mudar uma situação política e de poder que dependa da opinião pública e do voto eleitoral. No entanto, por  modismo, desleixo ou falta de identidade histórica, Galeano comete erro condenador ao estabelecer juízo de valor entre Caridade e solidariedade,  objetivando anular a influência da doutrina de Jesus Cristo nos valores que mantêm unidas diferentes classes sociais. Ora,  é nítido perceber com profundidade que a Caridade tem sustentado a civilização ocidental e suas relações humanas há milênios e que somente a Caridade como Dom de Deus é transformadora e aprimoradora do indivíduo interior porque trata do Amor ao próximo. Ela estabelece critério de valor humano para as  relações sociais, tornando-se a base para o desenvolvimento ético, moral e espiritual  do Homem e de toda civilização humana.
             Com isso quero dizer que a Caridade está em plano superior, espiritual, que não pode ser questionado pela ciência e vice-versa, não é objeto de campanha ou de Partido Político porque não serve a esse propósito e não pode ser distribuída. A Caridade é valor intocável que identifica, de forma preponderante, o comportamento esperado do Homem quando este alcança o estágio mais desenvolvido dentro da Civilização Cristã Ocidental e de outras civilizações que se ancoram na Doutrina Cristã. A Caridade é instrumento de aprimoramento das relações éticas entre os indivíduos e da construção do caráter dos mesmos. Para tanto, não se deve aceitar, sem resposta, que alguém, por presunção intelectual, por ingenuidade, intenção ou comprometimento ideológico, trabalhe para dirimir a Caridade com intuito subjetivo de enfraquecer esse valor ético milenar que nos identifica e aprimora enquanto Civilização Cristã.
             A Caridade não desobriga o Estado, a Igreja e o cidadão de se preocuparem com a miséria humana e suas causas. Ela, a Caridade, no entanto, não depende do Estado, da Igreja, do cidadão, porque já está posta por Jesus Cristo e somente pode ser aprofundada na sua compreensão desde que não sirva como objeto de partido político  ou corporativo. Ela, a Caridade, é percepção de cunho estritamente espiritual e individual se materializando somente em ações de indivíduo para com outro ou para com outros e não na ação de grupo fomentado por interesses econômicos ou políticos partidários ainda que assentado em princípios humanitários. Ela, a Caridade, pode ser desvelada, para nós, pelo contato direto com Jesus Cristo e mesmo por toda Igreja Cristã se nela houver o exercício constante do conhecimento e prática da doutrina de Jesus Cristo. Portanto, sem Caridade  não há conversão do Homem primitivo para o Homem  Civilizado na Civilização Cristã Ocidental.
                      Embora em 1990 já tivesse terminado a Guerra Fria entre o Campo Socialista representado de um lado pela Rússia, através da União Soviética, e do outro lado pelos EUA e aliados, esses últimos ligados ao Campo da Livre Iniciativa e Liberdade de Expressão, ocorreu que intelectuais adeptos ou simpatizantes do marxismo continuaram ativos. A produção intelectual marxista do período da Guerra Fria  foi marcada pelo combate aos valores culturais da Civilização Cristã Ocidental. Isso ocorreu não apenas dentro dos países sob a influência Campo marxista dominado pela Rússia/Soviética, mas também ocorreu dentro dos países ocidentais. Grupos marxistas partidários da União Soviética, atuavam livremente onde havia liberdade de expressão e, principalmente, em países aliados dos EUA e cujos  governos se opunham ideologicamente ao sistema inspirado nas teses marxistas.  Intelectuais e simpatizantes marxistas puderam existir dentro dos países ocidentais e neles exercitar a Liberdade de Expressão, principalmente nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento de formação cristã que experimentam períodos democráticos como o Brasil.
O século XX, que se encerrou no calendário  há pouco, foi marcado pelo conflito entre ciência e religião ou, mais especificamente, do materialismo marxista contra Religião, em especial a Cristã.. O combate a igreja e, em especial, ao Cristianismo esteve presente na produção intelectual registradas nos bancos de teses e trabalhos acadêmicos das Universidades  estabelecidas nos países desenvolvidos que fazem parte da Civilização Cristã Ocidental, bem como em Universidade Públicas  e privadas dos países subdesenvolvidos e de influencia majoritária do catolicismo romano latino americano que via nos marxistas uma possibilidade de minimizar o avanço do protestantismo.
         Ainda que os intelectuais que se puseram a combater o cristianismo e a figura de Jesus Cristo tenham lido e relido o Novo Testamento, este livro, que difere os Cristãos dos das outras religiões  monoteístas,  foi dissimulado e condenado como leitura e fonte de conhecimento pelos intelectuais de influencia marxista. Considere-se ainda  que a  falta de interesse  pela leitura do Novo Testamento assim  como da Bíblia Sagrada em seu todo, deve-se também a influência da Igreja Católica Apostólica Romana num todo e, em especial, da América Latina. Ocorre que, em função da diferença entre a sua prática religiosa e organizacional em relação a alguns  princípios da Doutrina Cristã,  a Igreja Católica Romana da Contra Reforma,   proibiu, em 1564 a leitura da Bíblia por qualquer indivíduo que não fosse clérigo e ainda  manteve sua Bíblia  escrita em latim. O latim  foi mantido como a língua utilizada nas missas até a década de sessenta do século XX aqui na América Latina.                   Essa decisão de manter a missa e a  Bíblia usado pelos clérigos em latim obedece a decisão do  Concílio de Trento, realizado de 1545 a 1563.  Com o Concilio de 1545, a Igreja Católica Apostólica Romana  respondeu politicamente à Reforma Protestante de iniciativa do monge agostiniano alemão Martinus Luter (Martin Luther) que propunha,  desde o século XV, entre outras coisas, a tradução da bíblia nas línguas locais para que toda a população tivesse acesso ao seu conteúdo.
        Mesmo sendo a base da construção do indivíduo ético, moral e comportamental da civilização cristã, tanto ocidental como oriental, a indicação da leitura da Bíblia Sagrada, em especial do Novo Testamento, que alimentou Eduardo Galeano na América do Sul e a maioria dos filósofos da Escola de Frankfurt, foi condenada pelos  pedagogos do sistema público de educação, inclusive para os cursos de graduação, nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento como o Brasil.
A  Caridade pode ser lida no livro escrito há quase dois mil anos pelo apóstolo de Jesus Cristo, Paulo, em I Coríntios, capítulo 13, que a descreve assim:
“Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.      
        E ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria.
         Ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse caridade, nada disso me aproveitaria.
         A caridade é sofredora, é benigna: a caridade não é invejosa: a caridade não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita,, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade nunca falha: mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; mas quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado... “  
           A produção intelectual que ainda hoje manifesta intenção de enfraquecer a Caridade e a Jesus Cristo,  é instrumento político que visa desgastar e fazer ruir a Civilização Cristã Ocidental e, como consequência,  o Cristianismo em todos os cantos da Terra. No entanto, diferentemente de outras doutrinas e civilizações, na maioria das vezes, com base na Caridade, no Perdão, no Amor ao Próximo, na Tolerância de não julgar, e, principalmente, na fé e esperança de conversão e aprimoramento humano interior como ação da própria Doutrina Cristã, têm-se tolerado manifestações contrárias a Cristo. Entretanto, certas manifestações, que aparentemente se sustentam na Liberdade de Expressão,  têm  se mostrado de insuportável selvageria até mesmo para os que não são Cristãos.(PIGATTI, V, T., 2014)

                                                         Valionel Tomaz Pigatti
São Paulo- 2013/14

            Currículo Lattes:  http://lattes.cnpq.br/0781027245850748

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Antes disso tudo sou Homem. A DIVERSIDADE CULTURAL


                                                                                                                                (PIGATTI, V, T., 2013)
Antes disso tudo sou Homem... 
      D I V E R S I D A D E        

        Poderia elaborar comparativos acadêmicos baseados em obras de autores consagrados como sociólogos, antropólogos, cientistas políticos, etc. No entanto vou partir do meu olhar, da minha existência, da minha experiência, do meu conhecimento acumulado que, em alguns casos, foram despertados a partir da leitura de obras desses autores. Permita-me, portanto, em alguns momentos narrar na primeira pessoa. 
               A globalização e o estreitamento virtual das relações humanas proporcionadas pela internet, possibilita o conhecimento, quase que instantâneo, de toda atividade humana interligada por essa tecnologia no globo terrestre. A compreensão da Diversidade Animal, Vegetal, Geográfica, Topográfica e Humana do Planeta Terra, exige que se reflita sobre a necessidade de respeitar  outros  habitantes que possuem  características diferentes da minha ou da tua. No meu caso, essa constatação faz-me  reconhecê-los, mas também trabalhar para que os outros habitantes do planeta, e mesmo os que vivem no território onde estou estabelecido, respeitem-me e a História dos meus ancestrais. 
           Nascido e vivendo em São Paulo, Brasil, me esforço para que os outros respeitem o que fui, o que sou, o que pretendo ser. Aqui na América do Sul, no Brasil, em São Paulo, na capital, essa diversidade é muito próxima, pois está onde residimos, no vizinho, nos transeuntes, dentro dos transportes coletivos. No entanto, a diversidade  não é reconhecida no sistema educacional, na produção acadêmica e intelectual nacional, como também não é reconhecida na organização política e administrativa do territorialmente imenso Estado Brasileiro. Para nós, latinos americanos de origem europeia não portuguesa, não indígena, não africana, estabelecidos no Brasil, a questão da diversidade deve ser focada a partir do nosso próprio olhar. Portanto, a diversidade, para nós,  deve ser vista de forma diferente de como a observa ou são levados a observá-la aqueles que não estão neste continente, mas em outros países, como, por exemplo,  os  asiáticos, os africanos e os europeus. Esses tomam conhecimento do país através da produção acadêmica de orientação marxista ou através de imagens e narrativas  oferecidas pelo do sistema de comunicação liderado pela Rede Globo de Televisão e seu seletivo corpo de funcionários e beneficiários.  
             Não podem nos entender os que nos querem classificar a partir de seus países de origem onde a população é milenar e homogênea. Não podem nos classificar os que se valem dos catálogos de publicações oficiais das embaixadas do governo e de instituições públicas brasileiras que pautam seus registros no conteúdo dos meios de comunicação, como a Rede Globo, ou no que é promovido pela industria da mercadoria cultural ou mesmo por organizações politico-partidárias.  Os intelectuais de outros países não podem continuar generalizando como se no Brasil todos imigrantes tivessem a identidade ancestral totalmente diluída nas realidade(s) cultural(is) que os recepcionou(naram). Esse equivoco não pode ser mais tolerado principalmente agora em que se dá o estreitamento das relações, a democratização das informações,  a publicação de opiniões diferenciadas  que está sendo promovidos pela globalização e acesso  a produção digitalizada através da internet e, o mais importante, sem o controle do Estado.
                             Exigir o reconhecimento da diversidade aqui no Brasil é prioridade. Trata-se de uma federação de estados colonizados por emigrantes provenientes de diversos países europeus, africanos e asiáticos. Esses emigrantes se juntaram em comunidades espalhadas pelo vasto território federativo, estabelecendo uma quantidade patente de diferenças culturais e étnicas distribuídas pelos estados e regiões do imenso e multifacetado território brasileiro. 
                       Não trato aqui neste texto as diferentes opções sexuais impostas pelos adeptos da Ideologia de Gênero, tão em voga,  ou de gostos específicos de públicos consumidores  formados pelo monopólio que até então era controlado pelos sistemas de comunicação das mídias do Rio de Janeiro ou de São Paulo. Ao contrário, é exatamente contra isso que me debato, que conflituo.  Minhas ferramentas são as diferenças culturais, geográficas, climáticas e étnicas que identificam os povos e as manifestações estético/culturais espalhadas pelo vasto e diferenciado território brasileiro. Por isso é importante exigir o reconhecimento dessas diferenças e o direito de preservar a história e as características culturais de cada grupo social e étnico que se estabeleceram e estabelecem suas proporias características  neste vasto território. 
                     Esse exercício de preservação da herança cultural dos diferentes grupos sociais nos mantêm íntegros e nos protege dos projetos totalitários de ideologias que pregam a uniformidade, a pasteurização como, por exemplo, desejam os ideólogos marxistas e, com eles, os ícones da arte do Modernismo. A preservação da herança cultural dos vários povos ou famílias  impede a preponderância deste projeto de orientação marxista sobre o tradicional e resistente que varou séculos, milênios, protegendo, dessa forma, a rica variedade de manifestações dos diversos povos milenares, das garras de ideologias totalitárias como a da extinta União Soviética e da atual e ameaçadora chinesa.  
            Para confeccionar seu projeto totalitário, os marxistas, como de práxis,  reinterpretam, dão outro significado ao substantivo Conservador ou Conservadorismo, bem como a Civilização, Verdade, Família, entre outros e de acordo com a conveniência. Assim como o significado de Civilização, transformam o conservadorismo em um anteparo para  suas teses unidimensionais, entre elas a de que são eles os proprietários da única identidade brasileira. Dessa forma eles sustentam que o nascimento do povo brasileiro, sob o ponto de vista estético/étnico/cultural, se dá na cidade de Salvador, Estado da Bahia, com extensão migratória para a cidade do Rio de Janeiro. Associam a brasilidade a conceitos culturais/estéticos/éticos/religiosos na miscigenação Soteropolitana, reclamando direito histórico sobre a brasilidade por se afirmarem como  primeiros colonizadores, como se isso fosse um conceito Conservador. 
                      Os espaços para a imposição dessas ideologias totalitárias pelos marxistas e pelos monopólios de comunicação, a exemplo da Rede Globo, tem diminuído  devido a globalização e a Internet, os quais proporcionam o rompimento das fronteiras físicas causado pelo desenvolvimento e acesso ao universo da comunicação virtual e sem controle do Estado
                      É diante desse novo quadro de possibilidade de manifestação que empenho-me, tanto de forma física quanto de forma intelectual, a trabalhar  para que a diversidade sob o foco cultural e étnico seja uma realidade compreendida, exercitada e respeitada  entre os homens, deles para com as mulheres, das famílias para com  as crianças, para a natureza e os animais. Deve haver respeito entre  a natureza territorial de cada grupo  cultural. Mesmo que esse território agora seja abstrato ou ainda que este esteja fisicamente distanciado daquele outro, os grupos de indivíduos de natureza étnica e cultural semelhantes  devem ser respeitados, bem como devem ser consideradas as características específicas da natureza geográfica de cada localidade ou de cada nicho digital.
                                Aqui no Brasil, a convivência entre os diferentes  deve se pautar em trocas e permutas cotidianas, pois que  conviver reconhecendo os outros e as características que nos diferem é reconhecer a si mesmo, é exigir a contrapartida. Esse reconhecimento é o que pode dar continuidade estável e prosperidade ao acordo federativo brasileiro.  Ao reconhecer o Belo na natureza biológica, paisagística, geográfica em que o outro está inserido estamos, ao mesmo tempo, exigindo que o reconhecido também nos reconheça e tudo o que  está vinculado a nossa história. Portanto, somente reconheço aquele costume  ou aquela manifestação desde que a existência da mesma não cause danos ou a destruição de outros seres vivos diferentes, de culturas diferentes, enfim;  à diversidade. Desta forma posso afirmar que não me comporto e não me confundo com o relativismo utilizado pela antropologia,  já que não sou neutro ao reconhecer o diferente, pois somente reconheço se for reconhecido.
                            O reconhecimento  deste ou daquele gosto, deste ou daquele costume, deste ou daquele folclore, desta ou daquela manifestação cultural  só pode ser exercitado com consistência e  profundidade por quem tem identidade própria. Pois somente pode respeitar o outro  aquele que não é vazio, mas que tem conhecimento  da sua própria identidade recebida, sua própria história recebida, da sua própria trajetória recebida. Em se tratando de criança, devem os pais que possuem identidade, transferi-la para o vazio infantil que será exposto de forma protetiva  à educação oficial totalitária e aos conceitos de brasilidade de origem marxistas. Somente os que detém a consciência  de se reconhecer é que podem colaborar no contexto da diversidade. Somente quem se identifica dentro do seu  próprio contexto cultural ou histórico pessoal e coletivo pode  exigir e lutar por esse reconhecimento em contexto diverso  de cultura e de educação promovida por este ou aquele Estado nacional. Não há, portanto, espaço para o uso do distanciamento do pesquisador antropológico, pois se trata de ação de quem foi inserido, age e também se expressa, julga e manifesta valor, que deseja se ver reconhecido pela realidade, mesmo naquela realidade que já existia antes mesmo de ser inserido nela. 
                            A diversidade só pode se manifestar e ser respeitada em  País cujo sistema seja democrático e descentralizado,  que se assente em conceitos federativos e que produza, intelectualmente e na prática, os elementos da diversidade que configuram sistema federativo e multicultural. É necessário  que o Sistema de Educação em  país federativo e multicultural, de grande ou pequenas proporções,  atenda essas especificidades, democratizando os conteúdos das matérias escolares para  atender a diversidade  e satisfazer todas as realidades regionais e locais. Assim pode-se dizer que não é o Estado Nacional que deve ser reconhecido e preservado, mas sobremaneira o Estado Nacional é que deve reconhece r e preservar a diversidade étnica e cultural. O Estado Nacional é a contemplação e a garantia da diversidade. Portanto, a diversidade é o principio da produção econômica, da geração de emprego e do desenvolvimento humano e da miscigenação enriquecedora.
                           Para  alcançar tais objetivos é necessário que países do continente americano recentemente colonizados, ou que foram colonizados a partir do século XVI, bem como dos países de grandes dimensões territoriais e de impérios tradicionais que reúnem em seu território varias nações, tanto na Europa quanto na Ásia, que os instrumentos tecnológicos de industrialização, promoção, distribuição e arrecadação, instrumentos que lidam com a educação e a cultura, sejam descentralizados, democratizados, distribuídos e colocados a serviço da diversidade abrigada em seu  território federativo. Poderíamos entender que  hoje, a União Européia, é um formato de federação contemporânea cuja organização poderia ser transplantada para Estado como Brasil.  
                                          Somente através da descentralização político-administrativa, representativa e econômica do poder é que se criará um novo conceito de Estado Nacional sustentado na diversidade. Nele poderá se exercitar o respeito e  a dignidade aos diversos grupos de indivíduo, estabelecer um novo momento econômico e cultural para a Civilização Ocidental Cristã, contribuindo para sua consolidação e seu  aprimoramento no mundo, em especial, para a emancipação definitiva das  Américas Central e do Sul. PIGATTI, V, T., 2013)

                                                                       Valionel Tomaz Pigatti (Léo Tomaz)

                                                                                                               
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