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segunda-feira, 20 de abril de 2009

MEU DENTE


           (PIGATTI, V, T., 2009)  
Os Tassi         
                 Algumas lembranças  aparentemente simples de coisas que aconteceram comigo no decorrer da minha existência, acabam servindo para me identificar neste contexto social e histórico ao qual estou inserido. As lembranças e constatações deram-me identidade e os elementos culturais necessários para refletir, me situar historicamente e assim não me confundir com esta ou aquela procedência étnica, com esta ou aquela classe social, com essa ou aquela história. Nesse sentido tento perceber no que ascendi, superei e somei e no que continuo sendo o que sempre fui, preso ao fio da história e aos acontecimentos que me ligam aos que me antecederam e que ligará também os que virão.
                      Talvez seja constatação particularizada, muito individualizada e singular. Talvez não sirva a outro, mas aposto na hipótese de haver  alguém para o qual haverá serventia. Porém, se o universo  que constato existe unicamente a partir de minha existência, e se a partir dela estabeleço relações e reações com as outras existências; então devo ter algum significado, suponho, para as demais existências. Acredito até mesmo que tenha significado a partir do simples ato de existir, mesmo sem nenhuma consciência intelectual desse fenômeno. Basta ver e observar alguém ou um objeto para inseri-lo como um dado a mais e sobre ele realizar um conjunto de reflexões, entre elas as comparativas ou somente as de ordem física resultantes de reações químicas e hormonais.
                     Alguns imigrantes que chegaram com meus avós, os Bevilacqua e os Tassi, no Porto de Santos, em 1889, acharam interessante aqueles homens pintados de negro que trabalhavam no cais. Embora no bairro houvessem poucas famílias de afrodescendentes, com os negros e os brancos vivi toda a minha infância. Com eles eu dividia o banco da Igreja do bairro de nome  Burgo Paulista, aos domingos, na Reunião de Jovens e Menores.  Eu nasci e habitei em rua repleta de imigrantes europeus e achava incrível a imagem dos índios nas cartilhas escolares.  Bastava ver mata ou floresta para soltar a imaginação e me encontrar com os índios, a todo momento, embora nunca os tivesse avistado fora da minha imaginação e dos livros didáticos.

                          Sempre tive a impressão de que  estava em outro lugar e não naquele em que estavam os índios.  Quanto mais  pensava neles mais me sentia estrangeiro. Quando encontrava duas penas juntas de pássaros diferentes ou mesmo de galinhas imaginava, imediatamente, a presença de  índio. No entanto, se das penas eu buscava os índios, também comecei a perceber que  haveria de ter objetos que identificassem os da minha origem, da minha família, do meu gene, da minha genealogia. Pois foi assim que saí procurando,  foi assim que os encontrei e continuo encontrando em boa quantidade. 
                          Um dos primeiros elementos, mais imediatos, que me identificaram  socialmente com os Meus foram os dentes. As dentições dos trabalhadores urbanos europeus imigrantes, suas mulheres e seus filhos, tinham, até pouco tempo (refiro-me até a década de setenta do século XX),  suas bocas  reservadas ao destino das dentaduras. 
                     Entre as penitências que se paga por estar vivo,  a da dor de dente era cobrada ainda cedo, nos primeiros anos de vida. Soma-se a isso mais sofrimento quando se é filho de pai e mãe pobres,  empregados de fábricas,  comércios ou da produção agrícola. Ao nascer os dentinhos o bebê era tomado por um choro de irritação, mesmo porque os nascidos nas famílias de pouco ou nenhum recurso  contavam com as impressões culturais milenares passadas de geração a geração  no cuidado e interpretações dessas manifestações físicas. Obviamente que naquela época  algumas famílias de classe social mais abastada no Brasil contavam com a medicina e os remédios importados.
                   A partir de meus avós e, depois, de meus pais e também do que observei nos outros habitantes da vila, conclui com facilidade que os trabalhadores comuns, em São Paulo da primeira metade do século passado, não davam muito valor aos dentes. Certamente sabiam desde criança do sofrimento físico e financeiro que os dentes lhes causariam ao nascerem  e que continuariam a causar no decorrer de suas vidas. Sabiam também que a cidade em que habitavam era provida de bom número de práticos, quase nenhum dentista e número ainda maior de protéticos. Tanto é verdade que ainda hoje, inicio do século XXI, sindicato  respeitado é   sindicato de trabalhadores que  oferece aos seus filiados na sede da corporação os serviços de dentista e protético.
                         Nas mãos dos práticos ficavam os trinta e dois dentes  e, logo depois, o protético recolocava a mobília bucal que podia ser removida ao bel prazer do usuário. Meu irmão, dez anos mais velho, contou-me que do lado da casa onde eu nasci, ainda na década de cinquenta, num quarto e cozinha onde morava Antonio Massaro, estabeleceu-se um prático com todas aquelas geringonças da idade média, do tempo da inquisição. Ficou ali até esgotar a freguesia. Obviamente  mudou-se depois de ter tirado todos os dentes daquela população de obreiros, donas de casa, crianças, rapazes e velhos. 
                          Era assim que atuavam os práticos. Parecidos até com os garimpeiros, com os circos e parques de diversão. Iam até o final da lavra, explorando até o último, mudando-se para outras freguesias quando nesta sobravam apenas bocas desdentadas.
                    A minha história pessoal e particular com os dentes começou bem cedo. Não é à toa que tratei disso no livro de poesias que publiquei em 1982 intitulado "As Mulheres do Meu Bairro" cuja edição de 2 mil exemplares esgotara-se já nos primeiros dez anos de lançamento da obra, dado ao grande sucesso obtido com a mesma. Nesse livro denuncio a existência de classificação social a partir dos dentes dos indivíduos. Mas isso não vem ao caso, agora.
                      Ainda quando criança, na troca dos dentes de leite para os permanentes, visitei o dentista por muitas vezes por causa de cáries. Meus pais que usavam dentaduras não me entusiasmavam a cuidar de meus próprios dentes,  o que parecia ser atitude inerente à classe social a que pertenciam. Quem mais me atazanou para entregar-me as agruras do dentista foi meu irmão mais velho, advogado, que, ainda hoje, tem mais dentes naturais do que eu. Mas devo confessar que não tive muita sorte com a boca. Alguns amigos e inimigos dizem que, entre outras coisas, falo demais e que há castigo para tudo nesse mundo. Eu não acredito nisso e, portanto, continuo falando e fazendo o que me der na veneta.
                       A minha relação com dentistas teve momentos de muita tensão. Um desses encontros foi precedido por pequena tragédia bucal. Estava eu jogando futebol de salão em uma quadra aberta no colégio Paulo Egydio Martins, na Vila Maria, terra de Jânio Quadros, quando escorreguei no assoalho de cimento da quadra esportiva e bati com a cabeça e com a boca no chão. O barulho oco ressoou pelo espaço e, como resposta, ouviu-se óóóóó da platéia na qual estava boa parte das garotas para as quais vivíamos fazendo pose. É certo que eu havia marcado o único gol da partida, mas o tombo me colocou muito próximo ao fracasso. Digo isto porque sempre considerei um fracasso morrer atropelado ou em acidente de carro. Acredito que na competição natural entre indivíduos, aqueles que morrem atropelados saem dela pela porta dos fundos. Foi assim que me senti, com a boca estragada, a caminho do hospital.
                         Lembro-me que levantei-me do chão de cimento  sem reclamar ou expressar dor. Apenas queria sair dali, ir cuidar-me. Notei que dois de meus dentes haviam se partido. Um rachou da raiz para baixo, o outro pela metade. Os dois dentes superiores da frente. Antes fui conduzido a um pronto socorro visto que abrira um talho no queixo e diante do qual o enfermeiro que era gay, sem nenhuma hesitação, raspou-me a barba de jovem relapso com barbeador de gilete velha e cega de tanto já ter sido usada.  Tudo bem para quem sofreu o que sofri. Um dorzinha a mais já não faria diferença. Aceitei tudo passivamente.
                        O dente que havia rachado na diagonal, a partir da raiz, trazia consigo uma história inesquecível. Antes da tragédia do Paulo Egydio, haviam, aproximadamente, dois anos passados, fui convocado pelo exercito brasileiro e incorporado ao 2º Batalhão de Guardas, em janeiro de 1971. Essa unidade do exercito federal ficava alojada num prédio do Parque D. Pedro II, ao lado do Rio Tamanduateí. Prédio de construção antiga que servira ao Império, sendo, no começo do século passado, transformado no primeiro hospício e cadeia pública da Cidade de São Paulo. Na década de trinta meu tio Luís Tassi estivera preso ali, quando o prédio deixou de ser hospício e passou a ser somente prisão que ficara conhecida popularmente como a "Bastilha", numa alusão a prisão francesa do mesmo nome. Muitos estiveram presos ali, mas o apelido de Bastilha era resultado do espírito paulistano da Guerra de 1932 que invocava semelhança do que ocorrera em São Paulo com os fatos semelhantes ocorridos anteriormente na Europa.
                          Naquele velho prédio do Parque D. Pedro estava eu, soldado Pigatti, 739, a bater continência para os operários da intervenção militar que em 1964 derrubou o pessoal que sobrou de Getúlio Vargas alojados nos serviços público do Governo Federal.  No que anteriormente  fora  hospício, instalou-se uma cadeia pública,  depois um quartel do exército nacional, mais tarde um depósito da polícia militar de São Paulo,  e, hoje, é um prédio abandonado. Quando soldado do exército e nas dependências do então vistoso prédio público,  ganhei,  em maio de 1971, em numa noite fria, depois de tomar um banho gelado e dormir em beliche voltado para um dos janelões do dormitório, um quisto  no dente que haveria de rachar mais tarde na quadra de cimento do Colégio Paulo Egydio. Acordei com barulho do clarim soprado pelo corneteiro do dia e com uma sensação de que eu existia apenas da parte da cabeça que vai do nariz até o queixo. Estava com a boca inchada, uma bolsa de pus na gengiva e uma dor terrível. Fui até o sargento do dia e mostrei-lhe a situação. O sargento pé de poeira mandou que primeiro eu entrasse em forma militar e logo depois  de responder a chamada matinal seguisse em direção ao médico.
                      Com a dispensa procurei um dentista por conta própria para não perder o dente no alicate de um militar cujas histórias, naquele tempo de regime militar, se aproximavam e muito com as das torturas da Idade Média. Tratei de tomar antibióticos e depois fazer o canal do dente. Tudo bem, meu dente estava ali ainda que sem os nervos. Tudo ia bem até que, dois anos depois, em meio a crise  que se dizia existencial dos 21 anos de idade, escorreguei naquela quadra e acabei rachando dois dentes frontais, sendo que o do quisto curado havia  rachado em diagonal, ficando apenas a raiz em minha gengiva.
                     Tratado os ferimento, procurei um dentista indicado por minha irmã, Waldete, que meu avô italiano  Giacomo  chamava de Valeta. Minha irmã residia com sua família na Vila Maria e era na casa dela que eu pernoitava e tirava proveitos da condição de cunhado. Através de um processo da odontologia moderna ele, o referido dentista, refez meus dois dentes frontais. Voltei a sorrir, mas me mudei do Colégio Paulo Egydio procurando uma outra escola para completar o curso colegial. Com esses dentes frontais recuperados na Vila Maria me casei, me separei e casei de novo. E ainda com eles fui para a Universidade me graduar em Comunicação Social.                    
            Com a raiz do dente do quisto curado, que mais tarde  se partira  em diagonal,  que ainda  haveria de ser  recondicionado pelo dentista da Vila Maria, participei de reuniões clandestinas na Rua Santa Rosa, para organização da Frente Democrática Brasileira no inicio de 1977. 
              Ainda nesse período organizei os diretórios acadêmicos de estudantes da Universidade de Mogi das Cruzes e em 1978 fui para o Congresso de Reorganização da UNE em Salvador, Bahia. Ainda com esses dentes trabalhei para a Tendência Popular do MDB em um gabinete de vereador da Câmara Municipal de São Paulo em 1979, lancei livro de poesias em 1982, participei das Diretas Já(z), da organização do Movimento Popular de Arte de São Miguel Paulista, montei duas peças de teatro com mais de cem apresentações, participei do grupo musical A Tribo, morei numa cobertura de um amigo na rua Cotoxó, mudei para a Alameda Tietê, vivi na rua dos Estudantes, depois na rua Apiaí, inventei um tal de Movimento Cultural da Reversão, fugi para Bertioga, passei quatro meses trabalhando na pesca, voltei para a Vila Rei e realizei a Casa de Cultura Reversão. 
                      Por todo esse período circulei sem ter ido uma única vez no dentista. De tudo que fiz até 1986, não ir ao dentista foi o ato mais revolucionário e contestatório que realizei nesse tempo todo de agitação. Mas como todo ato de rebeldia tem seu preço, no final de 1986 eu estava com a dentição em frangalhos por obra do descaso e, muito mais, do desemprego que me assolou a partir de 1982, quando resolvi deixar o gabinete da Câmara Municipal desconfiado e sem entender muito bem o que os caciques das organizações abrigadas no MDB, depois PMDB, estavam impingindo ao destino político brasileiro. Outros também perceberam isso e fundaram outros partidos e eu não me filiei a nenhum deles. Ainda com os dentes em frangalhos me aproximei dos Humanistas, mas dei de cara com os argentinos do Partido Comunista e então me retirei.
                       Sem dinheiro, sem partido, sem espaço, sem emprego eu não pude mais resistir e tive que ir ao dentista. Conseguira na família o dinheiro suficiente para me submeter a intervenção bucal de peso. Depois de todos os exames e preparações sentei-me novamente na cadeira do dentista e, dessa vez,  de um conceituado  ´profissional de nome Doutor Dayer, personagem muito especial, cujo consultório ficava na Alameda Santos, paralela à  Avenida Paulista, próximo ao Trianon. Ali, naquela cadeira de dentista de alta classe, fiquei imóvel por nove horas consecutivas. Tudo havia sido preparado anteriormente para a conclusão do trabalho em nove horas de uma única sessão. Naquela noite de terça feira, depois de nove horas de boca aberta,  levantei-me da cadeira do dentista na Alameda santos, peguei um ônibus na Brigadeiro Luis Antonio em direção à Praça da Sé e lá me enfiei no Metrô. Nesse percurso muitas coisas aconteceram como o fato de eu andar feito louco de um lado para o outro, por entre as pessoas,  no vagão do metrô. Parecia que só havia minha cabeça, parecia que me haviam arrancado a cabeça e eu a segurava com as mãos tentando mantê-la acima do pescoço. A sensação era  de que eu não chegaria mais em casa. A cada estação o percurso parecia interminável até que desci na Patriarca, andei pela Avenida  Itinguçu, virei na Hermilo Alves e desmaiei na porta da Casa de Cultura Reversão.
               Chegando na Reversão os amigos de movimento, entre eles o Nelson Mouriz que eu havia socorrido em 1978 quando o mesmo havia levado uma pedrada no punho, pedra que fora atirada gratuitamente no trem  dos estudantes por um anônimo que devia estar em um dos barrancos à margem da linha.  Nelson, retribuindo  a minha gentileza anterior, levou-me para dentro da casa e me deu o remédio indicado pelo dentista e que eu trazia em um pacotinho. Junto com outros moradores da casa, deram-me também uma sopinha de pão com leite quente e então desapareci nos braços de Morfeu durante doze horas. Mas acordei no outro dia sorrindo com todos os dentes que o dentista havia conseguido me enfiar na boca.
                  Lá estava meu dente frontal que havia recebido um quisto, depois rachado em diagonal, depois refeito e recuperado, agora uma raiz firme prendendo com um pino de aço uma prótese quase perfeita com a qual eu podia cantar, falar, beijar e sorrir sem nenhum constrangimento.
              A Casa de Cultura Reversão explodiu em música, teatro, literatura, cinema, produção de ideias, conceitos de organização, avaliação crítica, confrontos de idéias, participações em organizações políticas, visitas ilustres, rádio, TV,  repressão, processos, movimento ambientalista, sorrisos e ais. E meu dente firme, com carenagem nova, com tantas histórias em si. Quantas mãos tocaram-no, esculpiram-no na tentativa de arrancá-lo ou deixa-lo ali? Quantos não arrecadaram dele o dinheiro para o sustento disto ou daquilo?
                 Na vila de Jânio Quadros onde, em um dos seus muitos discursos, na praça Eduardo Cothing, na qual o bonde  contornava para voltar ao Largo da Concórdia, eu estivera em 1979 com velho José Maria Crispim, deputado constituinte em 45, líder do PC do BR , já falecido em todos s sentidos. Ali, novamente na Vila Maria eu haveria de pregar o golpe fatal em meu dente.
                 Pouco antes do natal d do ano 2000, fui com minha filha e a filha da minha companheira, visitar  minha irmã que reside na Rua Eli, na Vila Maria, com quem eu habitei em tempos de colegial e de serviço obrigatório no exército brasileiro. Ali sob o belíssimo sol de dezembro, entre mergulhos e brincadeiras na piscina, com o espírito das férias de fim de ano, ao  fazer  as acrobacias favoritas das crianças, um pouco fora de forma, bati com a boca na cabeça de uma delas. Ainda debaixo da água pude sentir que alguma coisa havia se modificado em minha arcada dentária. Ao sair pela flor da água e respirar levei a mão ao meu dente frontal e notei que acabara de romper a prótese que acompanhara meus sorrisos nesses últimos 14 anos.
               Nada falei, de nada reclamei, apenas um ciclone de recordações passaram pela minha cabeça. Senti-me só, solitário e único. Pensei no quisto que ganhara meu dente em 1971 e no que acabara de perder naquele momento,  final do ano 2000. Ao passar a língua no local da gengiva onde houvera o pino de metal que ligava à raiz o que sobrara daquele meu dente frontal, senti que mais nada havia  ali.
            Não demorou para que sentasse novamente na cadeira de dentista. Desta vez escolhi a mão feminina e me submeti às mãos profissional da mulher. O perfume, a voz, a delicadeza, o cuidado, a proteção maternal, o jeito, o toque enfim tudo me levou a optar pela dentista. Apenas o orgulho e a auto estima pesaram-me um pouco, pois teria que mostrar-me de certa forma avariado para uma mulher. Enfim decidi que seria melhor nas mãos dela ainda que de autoestima um pouco abalada.  Ao final, ela, a mulher dentista, foi que resgatou minha estima na medida em que reconstruiu o meu sorriso. Ali, sentado, boquiaberto,  entreguei-me passivamente esperando  pelo diagnóstico, mas sempre preocupado com o dente frontal. Na cadeira, segurando o sorvedouro de saliva que ressecava a garganta, fiquei imaginando os antropólogos analisando os restos  de animal antigo, a arcada dentária. Por ela pode-se contar parte da história ou toda a história. Pode-se definir classes e situações.
                   Ontem voltei à dentista. Confesso que relutei, quase desisti. Aplicou-me anestesia, e com o alicate pontudo vasculhou minha gengiva, foi lá, lá no fundo, puxou com toda força e arrancou a raiz que sobrara do dente que resistiu a quisto e pancadas nestes últimos trinta anos de minha vida. Não quis vê-lo na ponta do alicate. Senti tristeza, fiquei deprimido, dormi bem mais cedo para esquecer-me do que acabara de perder, do que não veria e nem sentiria  mais...    (PIGATTI, V, T., 2009)

Valionel Tomaz Pigatti (Léo Tomaz)

Currículo Lattes:   http://lattes.cnpq.br/0781027245850748