Translate

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Família, herança e resistência.

(PIGATTI, V, T., 2010)
Lembro-me de meu pai, filho de imigrantes italianos, que passou sua infância na cidade de Rio Claro, interior do Estado de São Paulo. Ao se aproximar dos dezoito anos de idade, veio residir com um primo na capital paulista e tornou-se pintor de paredes na década de 30 do século passado, Era uma boa profissão na época e não demorou a conhecer uma das filhas dos Tassi e com ela contraiu matrimônio.  Meu pai esforçou-se para dominar a leitura e a escrita, superando o que lhe haviam oferecido como alfabetização para crianças que cursavam até o terceiro ano da escola primária. Conseguiu ampliar seus  conhecimentos básicos da língua portuguesa e passou a escrever versos e musicá-los.
    Ao contrair matrimônio com Rosa Tassi, uma filha de imigrantes italianos, meu pai  percebeu que não iria muito longe se permanecesse  submetido às influências da cultural luso-católica tradicional brasileira. Meu pai percebeu que a cultura brasileira tradicional estava assentada no patrimônio rural e agrícola que era sustentado pelo analfabetismo centenário. Havia uma grande mistura de interesses que eram costurados por uma organização religiosa que se adaptou a esse modelo de poucos pecados e muita permissividade. 
          Percebendo que precisaria procurar uma orientação espiritual consistente para controlar os seus ímpetos naturais e manter a unidade familiar, meu pai procurou pela Doutrina Cristã em uma organização religiosa que lhe acalmasse a alma, que o levasse a manter e aprimorar os entes de sua família. Converteu-se ao protestantismo e se dedicou autonomamente aos  estudos da Bíblia Sagrada, ao estudo da música tornando-se um escritor e compositor de  hinos sacros e de outras manifestações artísticas relacionadas ao seu universo pessoal.  Sua obra literária/musical está em hinários e ficarão por muito tempo no cantar dos Homens em todas as partes do planeta onde se puder exercitar um culto religioso cristão protestante ou evangélico. 
             Com meu pai trabalhei na adolescência como pintor de paredes e em obras da construção civil, porém, mais que o trabalho, ensinou-me a ser verdadeiro sob o prisma da Doutrina Cristã. É certo que meu pai, assim como minha mãe,  havia recebido uma herança ancestral de seus pais, casal de imigrantes italianos de valores éticos e morais solidificados pela Igreja Católica Apostólica Romana tradicional e milenar que acompanhara as gerações anteriores de suas famílias no norte da Itália. Certamente esses imigrantes trouxeram consigo os valores solidificados de  uma forma de organização familiar que foi se aprimorando de geração em geração, por séculos e séculos. 
        Lá na Europa, no norte da Itália, na região de Veneza e Veneza Giulia, todos seus ancestrais passaram por muitas guerras e invasões e em todas elas sofreram a desmoralização, a destruição, a quebra da ética familiar imposta pelos invasores inimigos. No entanto souberam resistir e reconstruir-se, recuperar o que haviam recebido e passar para os que estavam chegando ao mundo e essa foi a grande vitória. Quando os invasores foram embora, os valores tradicionais se reagruparam novamente como se  o cerne da família fosse um ímã ou algo que se atrai e agrupa,  Dessa forma a família se reconstituiu em seu formato original e se restabeleceu novamente.  Poderíamos afirmar que, diante de tantas invasões e quebra de valores familiares dos invadidos pelos invasores, o ato de reconstruir, assimilar, ignorar a presença deles e retornar sem questionamentos aos laços tradicionais familiares, impingiu uma derrota aos intentos do estrangeiros invasor, mantendo a unidade familiar e a identidade de pertencimento cultural de nacionalidade. 
                No século XIX, um novo movimento, desta vez emigratório, fez com que a família se desintegrasse outra vez na Itália. Se lá os indivíduos escolhiam seus pares em uma mesma comunidade, com um mesmo pertencimento local, ao chegarem em país da América passaram a formar família de origem italiana, mas com indivíduos de comunidades ou de diferentes regiões da Itália. No entanto, se antes as famílias resistiam aos invasores na Itália,  agora, de outro lado do mundo e  no território estrangeiro, os elementos resultantes das experiências milenares do lugar de origem que foram construídos e solidificados pela herança cultural de diversas gerações, acabaram esmaecendo diante da nova realidade histórica e social desses estranhos territórios situados nas Américas. 
               Já no novo território, indivíduos de origem e pertencimentos diferentes  se uniram na formação de uma família, dando a ela as características culturais de cada parte ou impondo a família o modelo daquele cônjuge cuja herança cultural ainda estivesse preservada. Ainda assim, mesmo com as referências da herança cultural, os valores que permitiam a solidificação de família como ela se estabelecia na  Europa ou na Itália, foi se desintegrando. Essa desintegração se deu (e se dá) em função da  cultura brasileira tradicional estar assentada no patrimônio rural e agrícola que sempre  foi sustentado no analfabetismo centenário. Soma-se ainda os interesses que eram costurados por uma organização religiosa adaptada a um modelo de poucos pecados e muita permissividade. Também concorreram para essa desintegração do modelo de família italiano ou europeu os elementos culturais impostos pelo mercado de consumo,  pelo tipo de economia, pela influência ideológica e cultural e pela  característica organizativa e social dos representantes políticos que estão à frente da administração do Estado nas suas diversas instâncias. Soma-se ainda o processo histórico de exploração colonial onde o acúmulo de riquezas se sobrepõe a todos os outros bens, tanto os de ordem espiritual, como os de natureza moral e ética. Para se estabelecer no novo território as famílias tradicionais imigradas são forçadas pelo conjunto de normas sociais estabelecidos pelo sistema educacional e econômico, passando naturalmente pela sobrevivência através do mimetismo.
                     Quem esteve junto da família tradicional, quem foi criado por ela e a manteve, recebeu e repassou, oralmente e do comportamento de seus ancestrais, os valores familiares da cultura milenar com os quais se constrói o caráter, o valor ético e moral das descendências. Quem foi influenciado pelo ambiente cultural e político externo a sua herança cultural, pelo mercado circundante ao núcleo familiar, pelo sistema educacional estranho, provavelmente provocou rupturas com os valores milenares da família tradicional. Esse indivíduo influenciado pelo sistema educacional formal e informal foi levado a sair antecipadamente do seio da família tradicional, ainda na infância, na adolescência. Em função desse rompimento, no decorrer de sua vida, esse individuo será construído pela oferta ideológica de mercado, pelas mídias comerciais, pela moda volatil e pelo hedonismo que tem marcado a relação entre as classes sociais nas colônias latino americanas. Nesse caso não haverá nenhum instrumento milenar em condições de defendê-lo diante das investidas ideológicas, culturais e de consumo que lhes assediam dia após dia. Dificilmente constituirá uma família regular e provavelmente deixará como legado aos descendentes a mesma ruptura. 
                      Esse modelo que resulta a partir da ruptura e que se reproduz culturalmente, somente será estagnado se houver a conversão do individuo rompido à um sistema que promova e exija a recomposição da relação entre os membros da família com base na cultura tradicional milenar, tanto  como modelo de proteção,  como de responsabilidade e preservação da identidade cultural do sujeito. Então, aqui nas Américas, em especial da portuguesa e da espanhola, mesmo sendo mais difícil, ainda é possível entender o que precisamos ser, o que deu certo, o que deve ser conservado e promovido como modelo tradicional de família.
           Nos dias atuais deste inicio de século XXI, mesmo se tendo um acumulo centenário de indisposições ao modelo de família europeu ou italiano,  é importante observar o rescaldo da guerra que  também os marxistas, ateus e hedonistas travaram contra o modelo tradicional de família cristã.  Os marxistas basearam suas ações nas teses de Antônio Gramsci e causaram estrago consideráveis na cultura tradicional cristã ocidental, principalmente no que tange aos conceitos de família e de individuo em família.
Neste final de século XX e inicio de século XXI é necessário observar as causas que estão levando os filhos, os jovens, meninas e rapazes  a abandonarem  a ideia de constituírem família no modelo cultural tradicional. Com isso eles estão desprezando a ideia de cuidarem de filhos e serem pai e mãe até o fim de suas vidas. Embora nascidos no seio de famílias cristãs tradicionais, os jovens  são vitimas do que ocorre dentro da casa, ou melhor, da ingenuidade dos próprios pais. Os inimigos da família e da herança cultural tradicional se escoram na ingenuidade dos próprios pais que colocam novelas e toda sorte de porcaria ideológica para dentro da própria casa através dos meios de comunicação como rádio e televisão, que são empresas de comunicação nas mãos de profissionais marxistas, ateus, hedonistas e promotores do consumismo. O consumismo é um elemento ideológico que modela o comportamento e justifica investimento das empresas em publicidade  que alavanca o enriquecimento financeiro das empresas de comunicação. O consumismo é uma vertente marxista na medida que estabelece a satisfação existencial no ato de adquirir a mercadoria que a publicidade relaciona com a satisfação, com o prazer existencial.
Lembrando que a geração de pais desse final de século XX e inicio de século XXI, os que nasceram nas décadas de 50/60/70 fazem parte de uma geração que foi encantada pelo desenvolvimento tecnológico do sistema de comunicação coletiva. Esse desenvolvimento tecnológico do sistema de comunicação do século XX impulsionou a relação social, mitificou, formou opinião e se estabeleceu como poder. Refiro-me  principalmente ao sistema de comunicação coletivo como rádio e televisão os quais usam tão somente da audição e visão ampliando, dessa forma a gama de analfabetos ou semi analfabeto que constitui a grande maioria da população e que não fazia uso da imprensa escrita. Assim, esse meio de comunicação invadiu o lar e a educação dos membros da família e, principalmente, dos filhos, sem nenhum questionamento.  Os pais agiram como sedimentadores, na família, do processo ideológico que a contaminou através do conteúdo midiático e sua indústria de entretenimento. O que também passou a  motivar o conflito entre pais e filhos foi o acesso as ofertas de tecnologia pelo chefe da família e o acesso a essa mesma tecnologia pelos jovens. 
   No entanto esse aparato ideológico marxista/ateu/hedonista e consumista  avançou sobre toda a malha social. A influência da mídia dentro do lar é  reforçada nos bancos das universidades. O exemplo da televisão pode ser constatado  na grande oferta de cursos universitários, fato que também ocorreu a partir dos anos setenta do século XX. Multiplicaram-se a oferta de curso superior de nível universitário a partir da década de setenta com a participação da iniciativa privada. Através da organização sindical e da influencia marxista  na formação dos professores. Esses professores,  ao  entrarem no mercado de trabalho,  passam a contaminar o sistema discente com conceitos voltados para a eliminação dos valores culturais em que se assenta o modelo de família cristã ocidental tradicional. Exercícios sobre liberdade sexua que levam ao rompimento do paradigma cristão de família e sua disciplina em relação ao comportamento sexual, entre outros, passaram a compor o cabedal do currículo profissional dos cursos de pedagogia.
Não é simples, ao contrário, é bastante difícil  interpretar e identificar as investidas ideológicas dos marxistas/ateus/hedonistas e consumistas já que, na maioria das vezes, se confundem com as necessidades de sobrevivência, com o sistema econômico e com a economia de mercado. Dessa forma a maioria dos pais é envolvida pela graciosa, passional e amorosa retórica pseudo humanista dos marxistas/ateus/hedonistas e consumistas, todos eles, conscientemente ou convenientemente, anticristãos. Não bastasse, os indivíduos da família estão sob o ataque constante  da propaganda de produtos da indústria e comercio, cujo único objetivo é transformar o cidadão em escravo do mercado de consumo. Por sua vez os pais reproduzem o modelo dentro da própria casa, tanto em relação à mitificação das profissões de curso superior e do culto à supostas autoridades, quanto em relação aos personagens e trabalhadores atores dos meios de comunicação e aos conteúdos apelativos da retórica  marxista.
O mercado de consumo e o mercado ideológico entram na casa da família através da televisão, da escola e da universidade, sistemas para o qual os filhos são levados a ingressar obrigatoriamente pelas leis, pelos governantes e seus partidos ideológicos. Sem rechaçar as investidas desses sistemas, os pais, privados de condições legais e de tempo, delegam a essas instituições o papel de educadores, colaborando assim com a impregnação do próprio ambiente familiar com elementos estranhos e fragmentadores, originários do sistema de educação público e privado, reforçado pelo sistema de comunicação de rádio e televisão. 
    Sem autonomia em relação a educação e com total dependência do sistema econômico para sobrevivência, os pais  são levados a reproduzirem o modelo e abrem espaço para a sua instalação dentro da família e, através do sistema eleitoral, dentro dos poderes públicos que conduzem a sociedade. Isso ocorre quando os próprios pais  se põem de frente à televisão sem exercerem o papel de líder de sala, tecendo criticas ao conteúdo midiático, entre o aparelho e a família de telespectadores. Diante desse quadro, ao invés de aprimorar e fortalecer os laços familiares, a família se vê envolvida com costumes e valores  estranhos os quais destroem, em ações subjetivas, a relação harmônica entre os membros da família. Dessa forma se dá a fragmentação  entre os elementos de faixas etárias e estágios de desenvolvimento diferenciados, rompendo com o modelo familiar tradicional cristão onde os país tem função fundamental na transmissão de valores éticos e morais para as suas descendências.            
       O amor paternal e maternal e harmonia que são valores necessários para fazer valer o sacrifício de manter e reproduzir a comunhão familiar, tanto na doença quanto na alegria, tanto na juventude quanto na velhice, passa a ser considerada uma perda de tempo em vida pelo bombardeio ideológico do hedonismo e do consumismo que, diuturnamente, é bombardeado pelos meios de comunicação. Quando os filhos não recebem exemplo e orientação dentro de sua própria casa, quando não herdam ensinamentos repassados pelo máximo de antepassados dos quais se guarda lembranças, eles passam a serem alimentados por outras genealogias, por indivíduos eunucos, assexuados, hedonistas, marxistas, consumistas, todos pais abstratos e desconhecidos.  Se os filhos não forem orientados pelos próprios pais cristãos para aquisição de conhecimento, eles serão levados para outros tipos de leituras e esculpidos pelos profissionais docentes das escolas e universidades. Os filhos trarão consigo os recados da vida exterior para dentro de sua própria casa, fragmentando a comunhão familiar e transformados em seus próprios inimigos. Se os filhos da famílias cristãs não forem alimentados espiritualmente dentro de sua própria casa, eles retornarão a ela como ateus e materialistas. Ao perderem o valor que os  liga aos membros da família tradicional, os filhos abrirão a porta que dá para a rua e acenarão com adeus para a história de seus genitores, descontinuando a história que seria deles também.  
    Para se estabelecer uma trincheira de proteção às investidas  dos marxistas, dos hedonistas, dos consumistas, dos militantes da reengenharia familiar e de todas as tendências de comportamento que se apresentam como instrumentos de fragmentação e destruição da família cristã tradicional, é necessário que se estabeleça algumas colunas pétreas. Para tanto não basta apenas tomar conhecimento, mas exercitar, praticar, colocar em público, colocar as claras, inserir nas pautas de discussão e nas agendas politicas os pilares  em que se assenta os valores materiais, legais, éticos e morais que tem solidificado e aprimorado a experiência da família cristã ocidental desde sua experiência primeva. 
    Pode ocorrer que um individuo tenha sido infectado através dados meios de comunicação e do sistema educacional baseados nos valores marxistas, hedonistas e consumistas, mas que deseja retomar os valores tradicionais da família cristã. Pode ocorrer também que um individuo não tenha sido fecundado, educado, se desenvolvido  dentro de um sistema que reúna membros e valores de uma família cristã. Essas situações não impedem a conversão e a busca dos elementos que podem  estabelecer o individuo dentro desse modelo. Se ele não herda, no entanto ele deixará como herança e voltará para a estrada principal da Civilização Cristã Ocidental.

QUEM CASA QUER CASA E QUEM QUER CASA QUER FILHOS. (Ditado popular)

    O que é preciso para se estabelecer uma família? O que é preciso para se firmar como legado aos descendentes para que possam formar e perpetuar nosso modelo de família cristã ocidental? Ao respondermos essas questões estaremos traçando objetivos e etapas a serem cumpridos pelos membros da família como o único propósito: de estabelecer e perpetuar para as próximas descendência o modelo de família cristã que vem sendo mantido e  aprimorados há milênios.
    Podemos começar procurando responder o que é necessário para um homem e uma mulher se  estabelecerem, procriarem e sustentarem seus filhos. Certamente o homem e a mulher precisam de uma casa, um lugar para se estabelecer e cujo território seja delimitado minimamente pela necessidade de ambos em formar, sustentar e proteger a família que os dois passaram a significar.  Podemos dividir essa questão em sub questões que irão respondendo as necessidades de sobrevivência e manutenção  que a família espera  obter dentro do espaço territorial em que se estabelecerá.
    Sem entrar no mérito da verticalização das residências que tem se dado nos grandes centros urbanos a partir do século XX, por consequência da industrialização e do desenvolvimento tecnológico, podemos estabelecer num plano ideal que construção, que território precisamos para desenvolver o núcleo familiar cristão de forma autônoma, privada, independente, minimamente autossuficiente. 
    Sim, há um modelo. Assim como ocorreu em outras áreas da atividade humana como a artística, também a arquitetônica, a do estabelecimento do homem no espaço físico sofreram a influência do modernismo ou das concepções e conceitos baseados no Marxismo. Residencia coletiva, conjuntos residenciais para serem ocupados pelos que foram chamados,  manipuladamente, de classe trabalhadora. Se quisermos responder a necessidade de moradia da família cristã então, como em outras atividades humanas, temos que voltar ao período que antecede o Modernismo ou o estabelecimento do marxismo, do hedonismo, do consumismo através dos meios de comunicação e do sistema de educação publico e privado. Voltar significa abandonar o atalho e voltar para a estrada principal da Civilização Cristã Ocidental.
    

                                           Indivíduo, construa a ti mesmo !

A cada tijolo que assentas
a massa que liga um ao outro
a base do alicerce que estendes
ao baldrame que não deixa nada torto
as paredes que levantas, que cresce
as amarras que segura e estabelece
o ponto de apoio do telhado
aos caibros que despejas no oitão
as ripas que arrimam e enquadram as telhas
ao nível, ao prumo tão certeiro,
Construa antes da casa o Homem
Indivíduo, construa a ti mesmo !

Meu coração é um tijolo
nas mãos de um pedreiro
antes de por na parede
põe o cimento primeiro
de um em um faz a casa
e te abriga lá dentro.
Assim como pegas a colher
como lanças o reboco à parede
como enterras na areia a pá
como nela mistura o cimento
como bate o prumo que acerta
como tens o olho certeiro
como usas a trena e o metro
como sabes usar o terreno
Construa antes o Homem
Indivíduo, construa a ti mesmo !

                Com meu tio Chico, Francisco Tassi, acompanhei o levantamento de paredes desde quando se usava o barro como liga entre os tijolos. Meu tio ( Zio Chico) foi uma pessoa especial para mim. Erguia casas graciosamente para os parentes e, depois de aposentado, erguia casas para as viúvas que estivessem em necessidade. Zio Chico me deu dignidade, lealdade, compaixão. Ensinou-me a usar ferramentas e, quando eu ainda era criança, deu-me o martelo de presente. Talvez por isso guardo comigo o carinho pelo serviço feito do bom pedreiro e sempre que posso ponho-me a trabalhar nisso porque me serve como  construção de mim mesmo, como terapia.

Zio Chico
Meu tio Chico morreu.
Capo natural
Eu gosto muito dele.
Gostava mesmo do meu tio Chico.
Chico Tassi, Francisco Tassi.
Duro, violento e bom como todo
Homem sensível.
Ele gostava de mim.
Nunca disse.
Mas me deu o martelo.
Zio Chico dava ferramenta
Para quem ele gostava.
Forma bruta de mostrar amor, ferramenta,
martelo.
O martelo para o marginal
Continuar martelando o mundo.
Tio Chico estava chateado com a morte.
Com muita razão.
Ela ficou rodeando por um ano
Provavelmente tinha medo do velho
Tinha medo do martelo do velho
Tio Chico encorajou a morte.
Meu grande tio Chico.
Tão simples.
Tão bruto.
Tão bom,
Como todos aqueles que tem coração,
Violento e bom,
Como todo ser sensível.
Se a morte se acovardasse mais
Você acabaria matando ela, não é?
Não faz mal, ainda tem o tio Luiz,
Tão coisa linda como você.
( premiada em Concurso da Câmara Municipal de São Paulo -SP- em 1981)
(PIGATTI, V, T., 2010)

                                                                                                       Valionel  Tomaz Pigatti- (Léo Tomaz)

                                                                                                                  Currículo Lattes:   http://lattes.cnpq.br/0781027245850748