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terça-feira, 10 de janeiro de 2017

A CRISE DO MONOPÓLIO DAS MÍDIAS NA FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA E AS REDES SOCIAIS.

                                                                                                                                  (PIGATTI, V, T.. 2017)
              O ano de 2016 foi fundamental para a mudança de paradigma político e cultural no Brasil. Nesse ano, no dia 31 de agosto, Dilma Rousseff é retirada do cargo de presidente da República Federativa do Brasil e a sociedade brasileira dá inicio a uma grande transformação com a  retomada dos valores culturais conservadores que irão substituir, paulatinamente, o modelo de gestão ideológica marxista que estava, explicitamente, há mais de 12 anos no poder com o Partido dos Trabalhadores.                      Nesse ano de 2016, grande parte da população brasileira engrossou manifestações de rua por todo o país,  contribuindo assim para desmitificar a retórica exercitada pelos partidos de esquerda ou grupos de influência marxista que alcançaram o poder nestes últimos 12 anos. Os marxistas tomaram posse do  Palácio do Planalto, em Brasília,  primeiramente e de maneira discreta, em 1995, com Fernando Henrique Cardoso, depois de forma mais ostensiva com  Lula e, finalmente, de forma escancarada com Dilma Rousseff.   
        Durante essas três décadas de gestão marxista dividida entre o PSDB e o PT, muitos grupos de ativistas políticos e culturais continuaram sobrevivendo e se recusando a aderir a agenda política e social desses governantes. É o caso de um grupo que se estabeleceu em um bairro da periferia da cidade de São Paulo, com uma atividade voltada para a política/cultural. Esse grupo se tornou bastante conhecido por sua atividade à frente da Casa de Cultura da Reversão Paulistana -(1986/2011) - e da Rádio Livre Reversão - (1988/1991-1995/1996). Embora centenas de pessoas, em sua maioria jovens, tenham frequentado ambos os projetos, poucos puderam entender a respeito dos conflitos intelectuais e culturais que o grupo estabelecido na Casa de Cultura da Reversão Paulistana tinha com a agenda política/cultural dos partidos de esquerda, com o governo e com a indústria cultural promovida e explorada pela Rede Globo de Rádio e Televisão.
     Organizados em partidos políticos de esquerda e com agendas e interesses econômicos convergentes, esses partidos de origem marxista, PT e PSDB, juntamente com partidos menores de mesma base ideológica, formavam uma frente pluripartidária no exercício do poder político, cultural, administrativo e econômico do Brasil. Por conta disso, durante todo o tempo em que essa frente esteve no poder, período que se estendeu até  2016, os que não aderiram a agenda da esquerda sofriam retaliações profissionais e, consequentemente, econômicas por parte das organizações públicas e também de organizações  privadas que se alinharam á retórica e aos interesses financeiros dos marxistas.
         A estratégia de domínio do discurso social  da esquerda obedecia a uma  retórica que cooptava e chamava para si a liderança das reivindicações  que surgiam dos diversos segmentos sociais,  Para dominar os movimentos sociais, hora os marxistas se mostravam liberais, hora marxistas, populistas, socialistas ou com discurso do segmento católico apostólico romano latino-americano. Dessa forma estiveram, aparentemente, na "cabeça" de todo movimento social tanto na área de infraestrutura social quanto na área cultural e religiosa. A mídia, por sua vez, e dentro do acordo financeiro com o poder político marxistas, servia-se das opiniões das "cabeças" para dar as versões dos marxistas sobre os fatos das matérias jornalísticas diárias.
           Mesmo antes de chegarem discretamente ao poder, em 1995 com FHC, quando ainda estávamos no final da década de setenta soba administração do Regime Militar, os que  participavam de atividades culturais de forma inorgânica e autônoma,  sentiam-se coagidos no dia a dia pelas palavras de ordem e pela pressão econômica e administrativa dos grupos marxistas. O conteúdo da imprensa, bem como da atividade cultural e educacional  estava se transformado em registro e retransmissor da agenda marxista. No entanto, não era possível identificar esses conteúdos marxistas tão claramente nas décadas de 70 e 80 como quando os comunistas chegaram ao poder central do Brasil, com Lula, em 2003.
              Lá em 1995, quando Fernando Henrique Cardoso foi eleito para o cargo de  presidente da república do Brasil, ele havia feito, ainda como candidato, o primeiro acordo de interesses mútuos com a Rede Globo de rádio e televisão. O PSDB obteve o apoio político e o controle de opinião da Rede Globo para eleger FHC e esse grupo empresarial de comunicação obteve do presidente  FHC o dinheiro público das inserções de propaganda oficial através dos diversos ministérios federais, isenção e protelação de dividas.
                O modelo de acordo de FHC  com a Rede Globo passaria a se repetir com os próximos candidatos a presidência da república, Lula e Dilma.  Há especulações de que o próprio FHC conduziu o acordo de Lula com a Rede Globo e que o petista recebeu apoio de FHC para ganhar as eleições para presidência da República. Nesse caso, Fernando Henrique Cardoso fez um acordo com o PT e boicotou o candidato de seu próprio partido. No acordo de FHC com Lula o representante do PSDB seria premiado com o apoio do petista e seu partido logo que o mesmo cumprisse os oito anos de governo na presidência da Republica. No entanto o petista não cumpriu o acordo e lançou a Dilma para substitui-lo. Essa traição culminou posteriormente com a reação do grupo de FHC que articulou o impeachment de Dilma e, posteriormente, a condenação e prisão de Lula pela Lava-jato. 
              Durante as décadas anteriores a da eleição de FHC, mais especificamente nas décadas de 70/80/ e 90 a retórica marxista esteve introduzida de forma diluída em todo tipo  de reivindicação que surgiam do seio da população e no seu dia a dia das necessidades comuns. No entanto, ao chegar ao poder, FHC, Lula e Dilma tornaram-se instrumentos de afirmação de grupos específicos e passaram a se utilizar de critério seletivo na confecção de agenda de políticas sociais, tanto econômicas quanto culturais.. Dessa forma, a partir da eleição de FHC e do acordo que ele firmou como a Rede Globo de Rádio e Televisão, a própria rede de emissoras passou a fazer uso dos mesmos critérios ideológicos seletivos da agenda marxista para dar conteúdo as suas programações. Essa simbiose entre  o Estado e a Rede Globo de Rádio e Televisão transformou-se numa sensação de que o governo marxista investidor tinha o monopólio da opinião pública e a Rede Globo a segurança empresarial e o controle das verbas públicas para publicidade e  para outras atividades da comunicação social. Embora detendo a grande parte do bolo de verbas publicitárias, a Rede Globo passou a representar e cotizar os outros empresários de comunicação que aceitassem seu comando, a linha editorial  e a cumprimento das mesmas pautas.
            A partir do momento em que se estabeleceram no poder, 1995  com FHC,  a retórica marxista passou a  ocupar espaço nos meios de comunicação, nas expressões culturais, na retórica acadêmica, de maneiras que deu inicio a uma colisão frontal e desproporcional com a atividade cultural, intelectual, política e econômica de quem não fazia parte da agenda social desses partidos de esquerda e do perfil sócio/cultural da Rede Globo. Os militantes marxistas e aliados, por serem orgânicos, ligados economicamente a partidos políticos, por estarem em cargos públicos ou em ONGs financiadas com dinheiro público, por pertencerem a igreja Católica Apostólica Romana dirigida por Leonardo Boff e Pedro Casaldáliga destruíram os grupos culturais alternativos, inorgânicos, sem militância partidária ou qualquer tipo de financiamento público ou privado. Esse exercício de resistência dos grupos alternativos à cooptação pela colisão frontal dos partidos de esquerda causou toda sorte de perseguição aos indivíduos que não se alinhavam a retórica da agenda marxista. Seus integrantes e simpatizantes alternativos passaram a sofrer desde danos pessoais a danos familiares.
         As perseguições se davam de forma discreta, com recomendações que certamente eram feitas através de telefonemas entre os que pertenciam a mesma organização politica partidária e que ocupavam cargos nas administrações públicas municipais, estaduais e mesmo nas empresas privadas. Essa perseguição ocorria porque as empresas privadas tinham seus interesses financeiros contemplados por acordos políticos/financeiros ou porque participavam do sistema de aliciamento por corrupção. È o caso  que ocorreu com Rede Globo de Comunicações e todo o seu staff, o que se repetiu  com o grupo empresarial ligado ao jornal impresso, Folha de São Paulo e também com o sistema de educação público através de sindicatos e associações  e do setor privado com negociações e acordos realizados  diretamente com os empresários ou com seus representantes administrativos. 
           Não havendo o alinhamento com os interesses políticos e ideológicos desse grupo de poder marxista formado de partidos e empresas,  aqueles que não se submetiam a cartilha da esquerda passaram a ser excluídos do mercado de trabalho como profissionais de educação,  de comunicação e mesmo das atividades culturais patrocinadas pela administração públicas ou privada. Para melhor compreensão das perseguições que sofreram, cito, a seguir, o período da luta pela democratização dos meios de comunicação de rádio e televisão do qual participamos pragmaticamente durante uma década, entre os anos de 1986/1995. Essa atividade política/cultural que desempenhamos obteve  destaque social tanto na esfera  nacional  como na internacional nos anos 90, antes de FHC chegar ao poder.
          No Brasil, desde a primeira transmissão de rádio realizada em 1922, e mais acentuadamente a partir da década de 30 do século XX, quando Getúlio Vargas tomou o poder central através das armas,  as concessões para exploração de rádio e televisão, estavam concentradas  nas mãos de políticos, da igreja Católica Apostólica Romana tradicional e de uma dezena de famílias de empresários ligadas, direta ou indiretamente, a política institucional do Governo Federal. Essa cultura de compadrio seguiu  inabalavelmente até a década de sessenta do Século XX.
         Os meios de comunicação, primeiramente através de emissoras de rádio e posteriormente através da televisão, devido a novidade tecnológica que representavam  e pela capacidade de  mitificação, controlavam a opinião pública e toda indústria de entretenimento. Era, portanto, impossível se expressar através de meio de comunicação de rádio e televisão sem ser aprovado pelo critério ideológico e estético dos controladores dessas mídias.
            A  partir da década de setenta, alguns movimentos que contestavam o monopólio exercido pelo rádio e pela televisão começaram a surgir na Inglaterra e EUA. Logo se expandiu para outros países da Europa. No ano 1988, influenciados pelo movimento italiano de rádios livre e tomando conhecimento do exercício legal de rádio de baixa potência nos EUA, um grupo de paulistanos montou sua própria emissora de rádio de baixa potência e a batizaram com o nome de Rádio Livre Reversão em 106,5 MHz.  A pequena emissora funcionava a partir de um estúdio montado dentro de um centro cultural alternativo conhecido como Casa de Cultura da Reversão Paulistana que ficava em um bairro  do subúrbio da cidade de São Paulo.
           O projeto da rádio foi materializado em 1988 para, através dele, o grupo exercitar suas próprias concepções políticas, históricas, estéticas, bem como a própria  produção artístico-cultural para assim romper o cerco institucional das concessões e do critério ideológico e estético dos controladores dessas mídias e da agenda cultural marxista. Mesmo nos canais de comunicação públicos/governamentais, a exemplo da TV Cultura do Estado de São Paulo,  que deveriam inserir a manifestação cultural da população que não estava contemplada  pela mídia privada, mostravam-se comprometidos com o aparelhamento de partidos políticos que estavam no governo. Os funcionários ou os contratados pelas emissoras  públicas promoviam cerceamento ideológico cultural ou através da esquerda acadêmica alojada organicamente na direção de sua programação ou por simpatia a retórica e a agenda sócio/cultural do referido partido mantenedor instalado no poder estadual ou central.
            Primeiramente e antes da instalação da emissora de rádio livre,  para experimentar o exercício de convivência com a sociedade local, o grupo construiu, em 1986, um centro cultural auto gestionário que ficou conhecido como Casa de Cultura Reversão ( depois Paulistana). Dois anos depois, em 1988, completaram o projeto montando e fazendo funcionar, a partir da Casa de Cultura Reversão, a Rádio Livre Reversão, emissora de rádio de baixa potência, sem que a Casa e a Rádio  tivesse qualquer registro ou permissão institucional ou legal para funcionar.
          Com programação diária que negava os padrões culturais institucionalizados, bem como a mercadoria da indústria cultural de entretenimento propagada pela Rede Globo e emissoras de rádio legalizadas, a Rádio Livre Reversão negava-se a transmitir as manifestações artísticas orgânicas da esquerda. A Rádio Livre Reversão funcionou  de agosto de 1988 até o dia 9 de abril de 1991, quando a Casa de Cultura e o estúdio foram invadidos em ação conjunta da Policia Federal com o Ministério das Comunicações, sob o governo de Fernando Collor de Mello e com a influência direta da Rede Globo que coordenava e controlava a ABERT -Associação Brasileira  de Emissoras de Rádio e Televisão-.
            Esta ação do Governo Federal  tinha por finalidade prender o responsável pelo funcionamento e pela programação da emissora de rádio livre, confiscar todos os equipamentos além de fitas cassetes, discos, cartazes e tudo mais que havia no estúdio. Por três anos o responsável pela pequena emissora livre respondeu  processo na Justiça Federal até que foi absolvido  em 1994, recebendo de volta todo o equipamento da rádio que havia sido confiscado pelo Governo.
           No Dia 9 de abril (mesma data da apreensão) de 1995 a emissora voltou a funcionar transmitindo do mesmo lugar onde havia sido fechada pela ação policial do governo federal. Depois de permanecer por mais um ano no ar, suas atividades foram encerradas definitivamente em 9 de abril 1996. O encerramento das atividades deveu-se a avaliação dos responsáveis de que o projeto de comunicação havia cumprido totalmente com sua proposta política e cultural para a qual foi edificado. 
Carreata em plena Avenida Paulista em protesto pela
ação do Ministério das Comunicações que fechou
da Rádio Livre Reversão em abril de 1991.
          O fato do responsável pela Rádio Livre Reversão  ter sido absolvido no processo judicial que o Governo Federal lhe impôs, fez surgir milhares de pequenas emissoras de rádio que se espalharam pelo vasto território do Brasil sem que, para isso, tivessem permissão legal para o funcionamento. Essa situação de desobediência civil obrigou o próprio Governo Federal no ano de 2001, sob a gestão de FHC,  a regulamentar por Lei o funcionamento de emissoras de baixa potência no Brasil.
         Essa regulamentação foi estabelecida para dar um nó no movimento de rádios livres e evitar que esse tipo de atividade sem permissão federal fosse mantido com amparo na jurisprudência criada pela Rádio Livre Reversão. Considere-se ainda que a Rádio  Livre Reversão voltou a funcionar no dia 9 de abril de 1995, permanecendo no ar até 9 de abril de 1996, quando as suas atividades foi encerrada  por livre espontânea vontade .
       A apreensão da Rádio Livre Reversão foi noticia em grande parte da mídia diária de jornais escritos, rádio e televisão, com exceção das mídias ligadas a Rede Globo. O fato despertou a opinião pública para a causa da Democratização dos Meios de comunicação de Rádio e Televisão desembocando em um movimento de interesse nacional. Tal publicidade fez com que surgissem iniciativas de partidos políticos de esquerda que, na forma de associações e foro, se organizaram para representar, intermediar e controlar essa bandeira de luta que ganhou notoriedade com a Radio Livre Reversão. Sob a influência dessas associações, dos foros, das organizações patronais e de setores da igreja católica envolvidos com comunicação, foi confeccionado o projeto de regulamentação da atividade de emissoras de baixa potência dando ao projeto o título de Rádios Comunitárias.
O objetivo era anular as iniciativas pautadas na jurisprudência criada pela absolvição da Rádio Livre Reversão e, acima de tudo, controlar o conteúdo das programações das pequenas emissoras. Ao final, o projeto aprovado pelo Governo Federal transformando rádios livres em rádios comunitárias tirando dessa atividade a capacidade de formar opinião e interferir na demanda de mercadoria oferecida pelo monopólio controlado pela Rede Globo. Essa mudança de paradigma de Livre para Comunitária Legal permitiu que rádios comunitárias se transformassem em aparelhos políticos. As poucas concessões  premiaram as associações alimentadas e preparadas com a retórica das organizações sociais de apoio aos partidos de esquerda.
       No entanto, com o passar dos anos as rádios comunitárias foram abafadas pelos que manipularam o movimento. FHC fizera acordo com a Rede Globo e nem essa empresa de comunicação e nem a esquerda que estava no poder tinha interesse na democratização dos meios de comunicação de rádio e televisão. A escamoteamento total do movimento se deu nos governos do PT de Lula e Dilma que  que substituíram FHC. A regulamentação instituída por FHC com apoio da esquerda destruiu de vez as possibilidades do exercício da liberdade de expressão sem controle legal e da auto regulamentação de emissoras de baixa potência  proposta pela Rádio Livre Reversão. 
          Contrariando o Pacto de São José da Costa Rica, (1969), do qual o Brasil foi signatário, a regulamentação federal sobre exploração de rádio de baixa potência promulgada pela Lei Nº 9.612, de 19 de Fevereiro de 1998, assinada por Fernando Henrique Cardoso, vestiu camisa força na liberdade de expressão. A luta pela democratização dos meios de comunicação que o grupo da Zona Leste de São Paulo exercitou com êxito através da Rádio Livre Reversão começou a se esvaziar. Se por um lado a Rádio Livre Reversão foi vencedora, por outro lado  colocou seus participantes na lista negra dos ativistas sociais que passaram a ser cerceados em atividades profissionais que envolvessem educação, comunicação e cultura. 
         O esvaziamento da luta pela liberdade de expressão na democratização dos meios de comunicação foi causado, estrategicamente, pelos setores politicamente organizados da sociedade cujo projeto principal era chegar ao comando do Governo Federal e que, para tanto, fizeram um acordo de interesses com a Rede Globo de Rádio e Televisão. Esse projeto de poder dos partidos de esquerda comandados pelo PSDB e PT com o apoio da Igreja Católica Romana latino americana se consolidou, de fato,  em 2003 com a eleição de Lula para presidente da república colocando o Partido dos Trabalhadores no comando das principais instituições brasileiras. A liberdade de expressão, a democratização dos meios de comunicação e o exercício livre da comunicação pela Rádio Livre Reversão não atendiam o projeto do Partido dos Trabalhadores na sua estratégia ideológica de controle político e econômico do Estado Brasileiro. O projeto do Partido dos Trabalhadores, a exemplo do que ocorreu na Venezuela e na Bolívia, era ficar no poder por tempo indeterminado. Por conta disso, qualquer manifestação que pudesse ameaçar a estratégia de poder do Partido dos Trabalhadores e seus aliados, foi esvaziada, a exemplo do que ocorreu com o movimento pela democratização dos meios de comunicação de rádio e televisão e com a luta pela liberdade de expressão que envolveu a Rádio Livre Reversão. No entanto o projeto de poder do Partido dos Trabalhadores e aliados, o qual foi finalmente alcançado em 2003 e que causou tantos danos durante todos esses anos, encerrou-se oficialmente em 2016 com o impeachment da sucessora indicada por Luís Inácio Lula da Silva.
        O esvaziamento da causa que envolvia Liberdade de Expressão e democratização da indústria de mercadoria cultural,  foi promovido pelo Partido dos Trabalhadores, Rede Globo e aliados de esquerda. No entanto,  não  se pode deixar de apontar a conivência e participação do capital empresarial detentor das mídias e da mercadoria de divertimento cultural. A mídia brasileira instalada a partir de 1930,  controlava, ainda na primeira década dos século XXI, a demanda do mercado consumidor, e a opinião pública, a publicidade privada e institucional do território brasileiro. O capital agiu concomitantemente com a esquerda, tirando proveito das mesmas questões, embora  utilizando estratégias diferentes dos partidos de esquerda. Ao invés de quadro partidário, o capital financeiro pode contar com a fidelidade e interesses de seus próprios funcionários que gozam de altos salários e projeção social, trabalhando, em boa parte e ao mesmo tempo, para a empresa e para o Partido dos Trabalhadores e seus aliados. São esses funcionários os jornalistas, os trabalhadores em representação de personagens de novelas, os técnicos e serviçais de maneira geral. Por fim, as empresas, a exemplo do que ocorreu com os partidos políticos, se transformaram em verdadeiras quadrilhas legalizadas que se enriqueciam com o dinheiro público.

A DEMOCRATIZAÇÃO QUE O DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO DOS PAÍSES DESENVOLVIDOS  IMPÔS AO MONOPÓLIO DA VELHA MÍDIA DO TERCEIRO MUNDO.

        Quando já não se falava em Rádio Livre ou em Rádio Comunitária, quando o conteúdo conceitual dessa luta havia sido totalmente desprezado com o Partido dos Trabalhadores e a Rede Globo no controle do Governo Federal, quando os meios acadêmicos deixaram de manifestar interesse para formulação de teses e Trabalhos Acadêmicos sobre esse tema, surgiu uma nova expectativa para a liberdade de expressão dos grupos e indivíduos que combatiam o marxismo ou não se adequavam à agenda politica/cultural da esquerda marxista. Quando tudo parecia controlado pela esquerda, quando tudo parecia ter acabado para a resistência ao marxismo,  um movimento novo e inusitado vindo do hemisfério norte atravessou as fronteiras brasileiras e se estabeleceu no país.  A luta pela Liberdade de Expressão  se convalesce e recebe uma vigorosa injeção de ânimo levando os grupos até então derrotados e prisioneiros do monopólio a se reerguerem para alcançarem uma vitória inimaginável.
     Surge a revolução digital, a internet, que torna na liberdade de expressão num fato comparável a construção da prensa de tipos móveis de Gutemberg e as grandes navegações do século XV. A revolução digital se completa com a relação interativa proporcionada pela criação da plataforma WEB 2.0 por onde o monopólio do emissor em relação ao receptor estático foi rompido, destruindo o controle tecnológico do rádio e da televisão sobre a opinião do ouvinte e do telespectador. Emissor e receptor trocavam papéis a partir de agora e em tempo real.
        Junto com a internet, fenômeno tecnológico ocorre no inicio do século XXI, o conhecimento e as fronteiras são ampliados com o acesso ao conteúdo produzido em outros países, por outros movimentos, registrados vitualmente  em todas as línguas faladas no planeta. Esse processo resultou da expansão tecnológica dos países desenvolvidos que estabeleceu novos parâmetros tecnológicos e econômicos após a queda do muro de Berlim, em 1989, e do final da Guerra Fria.
     Com o passar dos anos a onda da globalização atinge, ainda que  tardiamente, o Brasil e os outros países subdesenvolvidos da América Latina. No decorrer desse processo de globalização, chega ao território brasileiro as tecnologias de comunicação e informação digitais e com elas a internet. Aos poucos foi se consolidando, pela globalização e de fora para dentro do país, o novo processo de uso da comunicação, da liberdade de expressão, da informação e do livre exercício da opinião pública através das redes sociais. Essa liberdade foi, inicialmente, um exercício que possibilitou o acesso de todos os extratos sociais aos meios de comunicação coletivos. O desconhecimento dos empresários das redes sociais sobre a real posição da população que por décadas se viu abafada pelo monopólio da mídia e pela manipulação da opinião pública, fez com que eles criassem e disponibilizassem os instrumentos tecnológicos para o exercício da liberdade de expressão e de opinião.  No entanto, os resultados políticos do exercício dessa liberdade fez com que esses novos empresários recorressem aos ensinamentos  da escola monopolista da velha mídia e a  agenda política dos partidos de esquerda.
           Inicialmente  a comunicação digital  estava reduzida a expressão textual, mas em pouco tempo nela foi inserida tecnologia que permitiu todo tipo de manifestação e em tempo real. De imagem a som, de vídeo pré elaborados a gravações instantâneas com transmissão em tempo real. Com a evolução da internet para as redes sociais, toda luta deflagrada, todo esforço empenhado e deslocado desde a implantação da Rádio Livre Reversão, em 1988, toda conquista, toda vitória e toda derrota, todo esforço dos grupos de política/cultural e toda manipulação  da Rede Globo e dos partidos de esquerda como PT e PSDB haviam sido substituídas, tornadas sem nexo, sem significado. Agora não se falava mais em meio de comunicação de rádio e televisão de baixa potência de 50 watts, pois a internet tornou-se disponível  a qualquer sujeito através da portabilidade de um aparelho celular de alcance inimaginável.
                 Nada  do que até agora fora feito possuía a dimensão, as características, a importância desse novo processo mundial que estava  envolvendo a liberdade de expressão. A tão sonhada vitória que se desejava alcançar em 1988 pela liberdade de expressão através da democratização dos meios de comunicação de rádio e televisão estava, enfim, sendo experimentada,  contemplada com a tecnologia digital e com a portabilidade individual de sistema de comunicação de massa a disposição nos aparelhos celulares.                   
                Por romper fronteiras e tornar o cidadão conectado com outros indivíduos de qualquer parte do planeta, a revolução digital retira das mãos de governos do terceiro mundo ocidental e dos seus projetos ideológicos totalitários, o controle sobre a comunicação coletiva e sobre o monopólio de seu conteúdo.
              Dessa forma a revolução digital torna caducas as empresas de comunicação que fizeram acordos com partidos políticos para trocarem formação de opinião por dinheiro público. A revolução digital colocou um fim  no monopólio da formação de opinião até então controlada pelas empresas de comunicação como jornais, rádios e televisões.
                    Estabeleceram-se as redes sociais criando a possibilidade de fragmentar o monopólio da retórica até então sob o controle das velhas mídias, bem como a manipulação da opinião pública. No terceiro mundo latino americano, a exemplo do Brasil, o sistema de comunicação sempre fora propriedade de políticos, da igreja católica apostólica romana  e de famílias de influência política que se apoderaram das concessões. Dessa forma  manipulavam a opinião pública, como também a mercadoria cultural. 
                  As novas tecnologias e as empresas de redes sociais não impediram a continuidade dos projetos políticos totalitários a exemplo do que ocorreu na Venezuela, na Bolívia, na Argentina  e não afetou os que já estavam há décadas instalados como os de Cuba e China, entre outros. Projetos políticos totalitários que muitas vezes manipulam a retórica democrática para alcançar o poder reagem em relação a liberdade de expressão inicialmente exercida nas redes sociais. Como uma reação ao avanço das liberdades possibilitadas pelas  redes sociais que culminou na  consolidação de valores conservadores, os partidos de esquerda se unem à igreja católica apostólica romana latino americana  , mas não mais ao velhos meios de comunicação de rádio, jornais e televisão. Em lugar dessa velha mídia os partidos de esquerda buscam agora parceria com os empresários das redes sociais.  Partidos de esquerda, igreja católica apostólica romana latino americana, traçam pontos em comum. Se para a esquerda a reengenharia familiar, questões do aborto e outros temas da sua agenda anticristã podem ser protegidas pelos proprietários de redes sociais, a igreja católica apostólica romana latino americana  também passa a apoiar esse agende desde o avanço inexorável dos evangélicos ou protestantes seja minimizados assim como a participação deles nos meios de comunicação de rádio e televisão e nas redes sociais. 
         As redes sociais deram vazão as opiniões, reflexões e ponderações acumuladas e silenciadas por décadas no isolamento imposto pelo monopólio da velha mídia que não permitia a consolidação de canais de comunicação livres e coletivos, ainda que de potência e abrangência insignificantes como as rádios e TVs livres. Com a chegada da internet foi possível tornar público e acessível a todas as pessoas, de todos os países e lugares, textos, poesias, estudos, opiniões, imagens, informações e toda sorte de publicações dos mais diversos enfoques ideológicos e conceituais. Através das redes sociais, deu-se vazão a opinião pública como nunca houvera ocorrido antes, até mesmo nos anos em que se falava diariamente através dos microfones da Rádio Livre Reversão para um publico estimado em trinta mil ouvintes.
     Nas redes sociais a expressão que ficara por décadas aprisionada ganhou liberdade, interlocução com respostas instantâneas, abrangendo toda sorte de indivíduos, sem nenhum vínculo orgânico com partidos, associações ou grupos organizados legalmente. 
    Outro fato importante foi a crise que se estabeleceu na atividade  de algumas profissões corporativas que intermediavam a relação entre a opinião pública e o poder político institucional, entre a informação e o vazio intelectual. Nesse caso a profissão de comunicador social, jornalista, em todas as suas especialidades, perdeu a importância na intermediação e representação da opinião pública. A globalização e as redes sociais colocaram os representantes do poder político institucional em contato direto com os cidadãos, desapoderando profissões e status, entre elas a dos jornalistas da imprensa escrita, mas também  redatores e âncoras  da televisão.           
          Também na área da educação a profissão de professor foi descaracterizada já que o conhecimento está a disposição de qualquer um que pode alcança-lo em qualquer parte do mundo através das ferramentas de pesquisa e da digitalização e publicação virtual de todo tipo de informação, seja ela em áudio, vídeo ou escrita.
       Da mesma forma a identificação de trabalhadores que fazem interpretação ou imitação de personagens nas novelas e no cinema, até então considerados artistas, tem seus dias contados. Ocorre que as novas tecnologias de informação e comunicação colocam a disposição do cidadãos até então silenciados  todos os instrumentos tecnológicos para a confecção,  registro, edição e publicação de sons e imagens.
     No entanto, os valores comportamentais, de costumes, hábitos de consumo, valores éticos e morais que foram desestruturados ou introduzidos nestes últimos cinquenta anos na construção cultural, estética, ética e moral do cidadão pelo monopólio da velha mídia e através de seu exercício diuturno  de manipulação da opinião pública, também migrou e ocupou sobremaneira os espaços das redes sociais. Representados por sujeitos de faixa etária presumível, acima dos 40 anos de idade, esse grupo social tem encontrado dificuldades para lidar com a liberdade de expressão. Outro fato que colaborou para a redução da liberdade de expressão nas redes sociais foi a politização das mesmas. No entanto a politização é fundamental para a liberdade de expressão já que a velha mídia excluía, controlava as manifestações que não estavam de a acordo com seu pacto político ou com a sua mercadoria cultural. 
         O volume de informações com a marca da liberdade de opinião tem gerado mudanças até mesmo neste referido grupo de indivíduos de mais de 40 anos. Ainda assim essas mudanças não desfazem a insegurança que esse grupo de indivíduos acumulou pelos anos de submissão ao sistema de produção de opinião/pronta servida pelo monopólio da mídia. É possível observar nas redes sociais grande quantidade de publicações de clichês ou frases prontas de autores de toda natureza e mesmo de "artistas" orgânicos mitificados pelo monopólio da mídia e usados no projeto de poder dos partidos da esquerda assentados no  marxismo ou de nas suas  vertentes socialistas. 
        Por outro lado, as redes sociais têm aproximado os sujeitos que foram silenciados,  ocultados e desprezados pelo monopólio. Esses indivíduos procuram uns aos outros pelas redes sociais e convergem para as mesmas preocupações. Romper com o silêncio foi o principal  motivo que levaram o  grupo de indivíduos paulistanos a edificar em 1988 o projeto da Rádio Livre Reversão. Em uma avaliação correta, pode-se afirmar que a experiência com a Rádio Livre Reversão alcançou projeção política social, mas não logrou êxito sobre questões que envolvem o conteúdo cultural na disputa desproporcional que estabeleceu com o monopólio. Diante disso pode-se afirmar que o encontro entre indivíduos silenciados pelo monopólio e com preocupações semelhantes não aconteceu antes da internet. Pois, mesmo com rádios e TVs livres, não poderiam conversar, se encontrar e construir discurso comum, pois no rádio e na televisão somente  emissor detém o poder da fala, da opinião. Bem ao contrário disso, as redes sociais usam a plataforma WEB 2.0,  onde emissor e receptor podem trocar de posição simultaneamente e em tempo real.
            O atraso ocasionado pelo monopólio das comunicações e de manipulação da opinião pelas velhas mídias de jornal, rádio e televisão,  que, somado ao sistema educacional contaminado por teses marxistas que resistiram mesmo com o fim do Muro de Berlin,  deixam um legado que não desaparecerá nos próximos anos ou na próxima década. Certamente, o resultado da falta de liberdade de expressão que submeteu gerações fará com que grande número de indivíduos continuem carregando, manifestando e reproduzindo valores éticos, morais e culturais que lhes foram sedimentados pelo monopólio, por seus profissionais e intelectuais orgânicos.
        Temas como corrupção, parlamento, justiça, violência, religião, diversidade cultural e outros de ordem moral e ética passaram a ter voz nas redes sociais através da opinião pública até então silenciada. Se as manifestações da opinião pública que estava silenciada foi fundamental para desconstruir a retorica esquerdista de poder, outros temas subjetivos dão sustentação a esse tipo de poder e continuam sendo usados e manipulados pelo monopólio. Se os usuários das  redes sociais a politizaram, outras questões continuam sendo ignoradas. As redes sociais e a internet confundem quando dão aos seus usuários a ideia de que são cidadãos globalizados.  O fato de ter acesso a qualquer manifestação no planeta e em tempo real não inibe as questões de ordem local, regional. Questões como as que põem em público o controle do mercado cultural, da mercadoria de divertimento cultural, da representação sindical, do voto obrigatório, da inviabilidade ou não do pacto federativo, da multiplicidade de identidades regionais, do controle do conteúdo acadêmico, entre outros, não receberam ainda a mesma atenção dos usuários das redes sociais. Talvez porque esses usuários estão submetidos ao processo natural de implosão por etapas que está em curso no atual momento histórico mundial e, consequentemente, brasileiro. 
        Estas questões são propositadamente ignoradas pelo monopólio que ultimamente tem se ocupado  das pautas  apresentadas nas redes sociais. Ainda que o monopólio use o conteúdo das redes sociais e reproduza o problema econômico e da corrupção, em hipótese alguma dará atenção para as opiniões  que refletem o desejo de mudanças culturais no sistema político e organizacional do estado brasileiro. O processo econômico e político representativo, o controle da informação e da opinião, prosseguem monopolizados e explorados institucionalmente pela velha mídia como uma proteção do que elas mesmas  estabeleceram há décadas. Ignoram totalmente  as possíveis mudanças reclamadas pelas redes sociais.  
               É certo, no entanto, que os empresários das redes sociais adquiriram status econômico que os colocam entre os proprietários de empresas de maior lastro econômico no universo empresarial. Diante desse quadro pode-se afirmar que eles já não se confundem mais com o ideia de liberdade de expressão, mas, ao contrario, se confundem agora com o poder. Já está havendo uma simbiose entre os empresários das redes sociais e os partidos políticos de esquerda, com os outros conglomerados econômicos e com centro de poder religioso globalista.  Não tardará para que o costume da velha imprensa migre para dentro das redes sociais, é só uma questão de tempo. Isso deverá ocorrer de forma explicita quando os empresários detentores das redes sociais se converterem a cultura monopolista, a cultura do poder econômico e se aliarem aos beneficios propostos pelos grupos globalistas que representam a nova esquerda internacional, a nova ordem mundial.  
         No entanto podemos afirmar que não há como retroceder e que a democratização dos meios de comunicação está estabelecida pela mudança de paradigma tecnológico. O monopólio da formação de opinião da velha mídia pode ser destruído completamente. Pra tanto, os usuários das redes sociais precisam tirar o maior proveito possível deste momento em que as redes ainda não se ocuparam totalmente do papel papel político exercido até então pela  velha mídia.
(PIGATTI, V, T., 2017)

                                                                         Valionel Tomaz Pigatti (Léo Tomaz)
                                                                      Currículo Lattes:  http://lattes.cnpq.br/0781027245850748