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quarta-feira, 7 de maio de 2008

ITALIANOS NAS ASAS DO VENTO. (Italiani sulle ali del vento.)

(PIGATTI, V, T., 2008)
          O norte da Itália, por dividir suas fronteiras terrestres com outros países europeus, se viu envolvido por todo tipo de influência quando se deu a guerra de reunificação. Os que eram contrários à reunificação foram derrotados no campo militar e político durante o século XIX, entre 1815 e 1870 por ocasião do Risorgimento. No entanto, ainda hoje, na segunda década do século XXI sopram nas campinas e nos Alpes italianos os ventos que trazem o perfume de Napoleão Bonaparte, do Império Austro-húngaro, dos Balcãs, brisas de Lutero e Calvino, ainda que esses impérios e essas influencias religiosas e ideológicas tenham se dado no século XIX e seus principais mentores excomungados do território italiano. 


             Embora o Vaticano não apareça na frente de batalha com armas bélicas, foi nesse mesmo século XIX, em 1870, que o Papa excomungou, pela arma burocrática do decreto, toda a população da região vêneta. Em outras palavras essa excomungação realizada pelo Vaticano significou uma declaração de guerra àquela população do norte da Itália. Qual o motivo? Certamente a população veneziana  foi excomungada por estarem na fronteira com países  influenciados pela Reforma Protestante. Com o decreto de excomungação entabulou-se a pressão política e econômica para forçar a população a se dissipar através do movimento migratório e assim esvaziar o território ao norte da Itália. 
         O quê  levou milhões de pessoas a abandonarem seus locais de origem no século XIX e XX? A exemplo do que aconteceu a outros países da Europa, na Itália um número significativo de citadinos, em sua grande maioria jovens, se viram obrigados a embarcarem em navios para serem distribuídos estrategicamente para o outro lado do atlântico, nos diversos países do continente Americano. Com a emigração esvaziou-se o território e eliminou-se qualquer resistência que pudesse se organizar  e se opor à dominação administrativa, econômica e política do Vaticano. 



                 Sem jovens para integrarem as organizações políticas e militares contrárias ao domínio papal, o Norte da Itália foi tomado pelo silêncio do vazio. Esses cidadãos expulsos de suas terras pelo Vaticano, foram levados para a América Latina e América do Norte, há milhares de quilômetros de lá. 
O mesmo processo ocorreu com a população do sul da Itália.  Culturalmente diferentes, italianos do norte e italianos do sul, foram empurrados para fora do território italiano. O Vaticano organizou e usou a migração  como se fosse exércitos  em campanha, em guerra.  As armas secretas eram culturais  e esses cidadãos as levaram consigo quando foram empurrados para fora da Itália. 
           Nos países da América Latina, abaixo dos Estados Unidos da América do Norte, foram levados os italianos originários do Norte da Itália. Por serem indivíduos que viviam nas fronteiras com países envolvidos com a Reforma Protestante, os italianos do norte foram entregues à Companhia de Jesus, braço do Vaticano e do Concilio de Trento, criada no século XVI para administrar  a educação nos países que foram colonizados por Espanha, Portugal e  pela igreja Católica Apostólica Romana. Para os EUA foram estrategicamente empurrados os italianos do sul da Itália que levavam consigo os formatos  culturais em relação a organização política de família e distantes da influência protestante que assolava a população do norte da Itália. 
           Grande parte da população que embarcou nos portos italianos foi recebida no Brasil pela mesma Igreja Católica Apostólica Romana que os fizeram emigrar da Europa. A Companhia de Jesus tratou de submeter os imigrantes de outros países da Europa ao espírito colonialista português. A quebra da identidade italiana do Norte continuou a ser efetivada pelos padres da Igreja de Roma no momento em que esses emigrantes desciam nos diversos  portos do Brasil e mesmo de outros países da América Latina. A Companhia de Jesus por 400 anos estipulou o modelo pedagógico para a educação e  se estabeleceu para atender as oligarquias portuguesas e espanholas com estratégias colonialistas para a exploração da madeira, da monocultura, da mineração artesanal e da mão de obra escravagista africana.
          Observando o estágio em que a Civilização Ocidental da Europa se encontrava e compara-lo ao estágio em que se encontrava os países colonialistas ibéricos,  os emigrantes, ao serem enviados para o Brasil, foram empurrados do topo de uma escadaria da Europa e da Igreja Católica Apostólica Romana para o inicio ou a base da civilização. Ao serem empurrados para os degraus mais baixos da civilização passaram a ser recolonizados por Portugal e pela Companhia de Jesus. 
            Essa condição histórica  pode ser  comparada  como a água de um balde  lançada no topo de uma escadaria que passa a descer em cascata para os degraus mais baixos. A Água que escorre para os degraus de baixo é a população europeia submetida aos portugueses e  aos espanhóis na América latina. Uma parte significativa da população da Região Norte da Itália que já havia conquistado e subido alguns degraus em direção as maiores conquistas da civilização ocidental europeia se viu obrigada a emigrar e recomeçar tudo lá embaixo, nos primeiros degraus do desenvolvimento econômico, social e cultural da civilização ocidental cristã no Novo Continente.


           Já no Novo Continente, na América Central e do Sul, os emigrantes europeus, tanto da Itália como de outros países da Europa Ocidental e Oriental, passaram a ser espanholizados  e/ou aportuguesados no modelo colonialista agrário e extrativista de Portugal e Espanha, sempre com a sustentação intelectual  da Companhia de Jesus da Igreja Católica Apostólica Romana  na retaguarda . A Cia de Jesus da Igreja Católica Apostólica Romana atuou como instrumento de sujeição e desconstrução da identidade original desses emigrantes. A cultura a que os imigrantes europeus, do final do século XIX e inicio do século XX, foram submetidos  pode ser comensurada  na  célebre afirmação do teólogo, humanista e historiador holandês, Gaspar Barléu, (1584 - 1648), em que diz; ultra aequinotialem non peccavi", (não há pecado abaixo do Equador ).
           Entre outras atrocidades éticas e morais, a escravidão do homem africano foi praticada e defendida até o inicio do século XX pelos colonizadores portugueses e espanhóis, com o consentimento silencioso da Igreja Católica Apostólica Romana. No entanto  esse "pecado" histórico passou a ser atribuído pelos escravagistas brasileiros aos povos oriundo de países europeus que nunca se envolveram com a escravidão africana. Alemães, poloneses, italianos, ao serem desembarcados nas Américas já no século XX,  receberam, por serem brancos ou Europeus, a corresponsabilidade pela política escravagista dos portugueses, dos espanhóis, dos franceses que a praticaram até o final do século XIX. Esse recurso de confundir e transferir responsabilidades históricas  pela escravidão dos africanos foi utilizado pelos historiadores portugueses e espanhóis, principalmente os historiadores  de influência ideológica marxista.  
         Os imigrantes ao serem depositado na América do Sul, passaram a frequentar um sistema de educação para o qual eles  deixavam de ser deste ou daquele país da Europa, de terem qualquer outra identidade para serem simplesmente "brancos",  como portugueses e espanhóis. Os europeus ao desembarcarem nos países da América latina sob a proteção da Igreja Católica Apostólica Romana, foram sujeitados às mesmas responsabilidades históricas anteriores às suas chegadas.  No caso do Brasil,  país foi o último das Américas a libertar os escravos africanos, os imigrantes italianos que não conheceram a sujeição do homem de origem africana à escravidão, receberam como herança essa culpa histórica. Como se não bastasse, por mais de uma centena de anos esses imigrantes passaram a ser  eram discriminados, não se viam reconhecidos com suas identidades originais e suas contribuições culturais  no contexto do sistema político educacional e cultural brasileiro. Foram ignorados  desde o dia em que desembarcaram e durante todo período em que se estabeleceram com suas famílias, mesmo para suas gerações posteriores de filhos, netos e bisnetos. Foram ignorados e perseguidos culturalmente  no território brasileiro, desde o XIX, passando  pelo século XX  e persistindo  até nos dias de hoje, primeiro quarto do século XXI  
          Reconstruir esse percurso histórico, desfazer esse jogo de responsabilidades, situar-se e identificar-se nesse processo é uma obrigação de todos os filhos de imigrantes europeus que não pertencem à esfera tradicionalista do cultuamento político/cultural dos mitos luso-católicos, hispânicos ou franceses. Não se trata de um processo histórico que tange apenas os italianos, mas que afeta  também os que, por motivos semelhantes, foram empurrados para fora da Europa  a partir do inicio do  século XX. Portanto inclui nesse processo histórico os próprios portugueses,  espanhóis,  alemães, poloneses e mesmo os africanos. Esse povos ao desembarcarem no Brasil foram submetidos, e ainda o são, ao perfil de exploração colonial que possui características econômicas, políticas, administrativas, culturais, intelectuais e religiosas específicas. 
           Não bastasse o retrocesso civilizacional das américas central e do sul, submetidas a 400 anos de domínio da pedagogia da Escola da Companhia de Jesus, os europeus que vieram para a América latina tiveram que se submeter ao cisma promovido por setores da própria Igreja católica Apostólica Romana latino americana. Ao final do século XX a guerra surda da Igreja Latina contra Roma teve como consequência a afirmação de identidades que excluíam os imigrantes do século XIX e XX. A Igreja Católica Apostólica Romana  da América Latina reafirmou-se no modelo dos jesuítas e requisitou para  si a identidade baseada na pobreza colonial agrícola do período da pré industrialização, declarando a posse da identidade nacional aos cidadãos que descendessem  da miscigenação de portugueses com africanos e índios ou entre esses aleatoriamente. 
       A partir de então passou a discriminar e intervir nas comunidades de origem europeia  que mantinham traços que as pudessem ligar à própria  origem. Entre os que sofreram esse tipo de intervenção, destacam-se as comunidade  de imigrantes italianos, poloneses,  alemães, entre outros. Nesse sentido, a igreja Católica Apostólica Romana Latino Americana  se identificou com as propostas econômicas e sociológicas  das organizações políticas de origem marxista e essa simbiose entre a Igreja  católica e o Partido Comunista está presente em toda a América Latina, nas representações governamentais e eclesiásticas, influenciando a eleição do Papa e as  decisões do Vaticano.


                   A distância entre os intelectuais europeus e a realidade da história dos imigrantes da Europa para a América latina é tamanha que  quando esses intelectuais abordam esse tema, não conseguem enxergar com outros olhos que não seja os olhos da velha e carcomida história da matriz colonial. Causam, desta maneira, um conflito razoável com os que desembarcaram aqui,  com os que pensam, com os que observam, com a realidade que esse vivem e experimentam. 
       Os imigrantes, ainda que subjetivamente ou de maneira abstrata, seguem, por diversas descendência, divergindo de valores como nacionalismo, identidade cultural, tradicionalidade, diversidade, religião, partidos políticos, educação, entre outros. O fato de ser empurrado para fora da Itália ou de qualquer país Europeu  não os separa atualmente da Europa, do lugar de origem ou do restante do planeta. Ao contrário disso, pode-se afirma que através da globalização do sistema de comunicação e das redes sociais,  o controle provinciano que tem sido exercido sobre os imigrantes, isolando-os deles mesmos e dos seus países de origem por quase dois séculos, finalmente se rompe.  A comunicação entre os cidadãos de toda parte do planeta rompe com o controle estabelecido a partir do isolamento entre os grupos de imigrantes e seu percurso histórico.  Indepentemente de governos ou da produção intelectual acadêmica, as identidades nacionais dos países da América Latina somente se sustententarão  se haver um processo cultural que reconheça, reproduza, promova e organize a autonomia, a produção e o intercâmbio das diversas etnias e suas contribuições para o processo econômico, social e histórico de cada país.(PIGATTI, V, T., 2008)

Valionel Tomaz Pigatti - (Léo Tomaz).



Currículo Lattes  http://lattes.cnpq.br/0781027245850748

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